Depois do primeiro dia em São Francisco, dediquei-me a explorar a contracultura de São Francisco. E o que é que isso quer dizer?

História da Contracultura de São Francisco

Ora, deixem-me voltar à História. Depoisda gold rush na Califórnia, São Francisco foi alvo de uma grande expansão entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX. Foram criados grandes bancos (como o Wells Fargo) e a indústria florescia, com o apoio da grande atividade portuária.

Nem o crash de Wall Street em 1929, nem a Grande Depressão dos anos 30 tiveram grande impacto na cidade, já que foi nesta altura que as pontes de Golden Gate e San Francisco-Oakland foram construídas.

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Contudo, após o final da II Guerra Mundial, tudo começou a mudar na cidade. Nesta altura, muitos veteranos de guerra decidiram refazer as suas vidas aqui. Contudo, a oferta de emprego não acompanhou o aumento da população, muito antes pelo contrário: muitas indústrias começaram a fechar nos anos 50 e a atividade portuária de maior dimensão começou a mudar-se para Oakland.

A partir desta década, a cidade entrou em decadência, com muitos residentes a mudarem-se para os subúrbios e uma vaga de imigração asiática e latina a chegar à cidade. Aqueles que andavam à busca de enriquecer saíram da cidade, dando lugar a um novo grupo de pessoas e a uma nova mentalidade…

Foi nesta altura que o espírito da cidade se começou a alterar, tornando-se um íman da contracultura norte-americana.

São Francisco tornou-se a cidade preferida da Beat Generation, um grupo de intelectuais que se assumia anti-sistema e que rejeitava com toda a força os valores tradicionais norte-americanos, que assentavam (e ainda hoje assentam…) na religião, no materialismo, no individualismo e na ação.

O autor mais conhecido desta geração é, sem dúvida, Jack Kerouac, imortalizado em Pela Estrada Fora (On The Road), onde relata a vida frenética e contra-sistema do seu grupo de amigos.

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Como todos aprendemos na escola, a Beat Generation lançou o mote para a cultura hippie que floresceu nos anos 60 na América.

O epicentro deste movimento tornou-se São Francisco, e mais precisamente Haight-Ashbury, para onde muitos jovens se mudaram na década de 60. Apregoavam o amor livre, manifestavam-se contra a Guerra do Vietnam e abusavam de todo o tipo de drogas. E foi aqui neste bairro que passei praticamente 1 dia a conhecer a contracultura de São Francisco.

Como o próprio nome indica, o bairro de Haight-Ashbury é a zona que envolve a intersecção das ruas Haight e Ashbury, povoada de casas de estilo vitoriano. Era uma zona pouco populada até aos anos 60, quando os hippies se começaram a mudar para aqui pelo valor baixo das rendas.

A área tornou-se então o reduto principal da contracultura de São Francisco: foi aberta uma clínica médica livre, um mercado livre e, até, uma loja “psicadélica”, onde qualquer um poderia adquirir diferentes tipos de droga. E, claro, a música tinha também um papel de destaque. Janis Joplin e Jimi Hendrix viveram por aqui.

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Uma das casas onde Janis Joplin viveu.

Tudo culminou no mítico “Summer of Love” de 1967. Neste verão, cerca de 100.000 jovens norte-americanos viajaram até São Francisco e, mais precisamente, até Haight-Ashbury para celebrar o amor livre e a contracultura.

Durante os meses de calor, os jovens viveram em comunidade, praticando o amor livre, utilizando drogas, ouvindo música e protestando contra a guerra e os valores norte-americanos. E andaram nas bocas do mundo, já que muitos media norte-americanos internacionais noticiavam os “loucos das flores na cabeça” que apregoavam o Peace & Love.

No final deste verão, os jovens voltaram às suas terras natais ou à faculdade, e verão mais hippie de sempre terminou. Mas não terminou a sua marca na cidade de São Francisco.

Locais a visitar: descobrir a contracultura de São Francisco

Percorrendo as ruas deste bairro ainda encontramos vestígios desta época. No primeiro local em que entrámos, na Decades of Fashion, a sexagenária, dona da loja de roupa vintage, contou-nos que também chegou a fazer parte do Summer of Love e que nesses tempos chegou a conhecer Jimi Hendrix.

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Na loja de música Amoeba, mesmo ali ao lado, os discos mais procurados ainda são os de Janis Joplin, Grateful Dead, Jefferson Plane e Jimi Hendrix.

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E um dos livros preferidos nas livrarias como a Booksmith ainda é o “Pela Estrada Fora” do Kerouac.

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Em muitos dos recantos deste bairro ainda vive o espírito da contracultura e vale a pena descobri-los. Quer seja a passear pelas lojas vintage, a subir ao Buena Vista Park para ver a panorâmica, ou a estender uma toalha no Golden Gate Park para beber cerveja ao final do dia.

«If you’re going to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair»

John Philips

Gostaram do artigo sobre a Contracultura de São Francisco? Leiam também onde estive antes: Sausalito e a Origem de São Francisco, de visita no Big Sur, em Los Angeles e Santa Monica e Flagstaff e Route 66. Vejam também o Roteiro de 1 mês pelos EUA.

Podem também acompanhar o Facebook, Instagram e Twitter do Contramapa.

Chamo-me Diana.Gosto de ler, gosto de escrever e tenho ganho o gosto de viajar. Decidi juntar as histórias acumuladas neste espaço e chamei-lhe Contramapa. Porque nas contracapas dos meus livros existe sempre um mapa, um sítio onde ir, um local a descobrir. Aqui podem conhecer as minhas histórias e viagens em livro aberto.

12replies
  1. Dani Biapo
    Dani Biaposays:

    Amei o post. Estive em São Francisco em 2014 é certamente Haight-Ashbury foi o bairro q mais gostei, mas não sabia a fundo da história

    Dani

    Responder
  2. Lidiane Albuquerque
    Lidiane Albuquerquesays:

    Muito legal contar um pouco dessa história. Estive em São Francisco e adorei a cidade, um encanto e ter toda essa pespectiva foi muito bom. 😉

    Responder
  3. Martinha Andersen
    Martinha Andersensays:

    Waowww… que most mais incrível. Amei a história contada nele. São Francisco é uma das minhas cidades preferidas dos Estados Unidos. A arquitetura, clima, pessoas, tudo é muito diferente do que eu vivo aqui na França. Beijos =)

    Responder

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