Com muito pouca prática, mas alguma determinação, decidi fazer a Estrada Nacional 2 de bicicleta em agosto. O meu treino de preparação foi quase nulo e não tinha equipamento profissional, portanto decidi fazer os 738,5 quilómetros da estrada que liga Chaves a Faro bem devagar.
Completei-a em 13 etapas num regime bem simples: pedalar de manhã pela fresca e descansar a partir da hora de almoço, aproveitando para conhecer as povoações por onde ía passando, sendo que nunca tinha estado em muitas delas.
Estrada Nacional 2 de Bicicleta: Etapas
Etapa 1 – Chaves a Vila Pouca de Aguiar
Iniciámos o percurso no quilómetro zero da Estrada Nacional 2 pelas 7h40. Esta foi uma etapa com poucos quilómetros para que os músculos se habituassem à estrada e a pedalar. Não existem subidas acentuadas e chegámos rapidamente ao nosso destino.
No final do percurso, para fugir ao trânsito é possível fazer o percurso de Vidago a Vila Pouca de Aguiar pela Ecopista do Corgo, que aproveita a antiga linha de comboios do Corgo.
Etapa 2 – Vila Pouca de Aguiar a Peso da Régua
A segunda etapa foi bastante fácil com um percurso maioritariamente a descer. Iniciámos o dia num planalto logo depois de Vila Pouca. Depois disso, temos uma pequena subida e é sempre a descer até Vila Real.
Depois de Vila Real, continuámos a descer até encontrar uma subida moderada até quase à entrada na Régua. A partir daí também é sempre a descer.
Etapa 3 – Peso da Régua a Castro Daire
Este foi o dia mais duro da nossa viagem. É sempre a subir até estarmos a uns 17 quilómetros de Castro Daire. Subimos as vinhas do Douro e, depois, há mais inclinação, serra acima. Felizmente, as subidas não são muito acentuadas e dá para ir sempre pedalando, na primeira mudança, sem muitas pausas.
Etapa 4 – Castro Daire a Viseu
Atravessamos o rio Paiva à saída de Castro Daire e começamos o nosso percurso. Neste dia encontrámos subidas e descidas bastante acentuadas, e uma paisagem lindíssima pela serra. Como fizemos menos quilómetros nesta etapa e as descidas iam compensando as subidas, foi um dia que se fez bastante bem e terminámos cedo, dando-nos tempo para explorar Viseu e recuperar.
Etapa 5 – Viseu a Penacova
À saída de Viseu optámos por fazer um desvio à Estrada Nacional 2 e fomos pela Ecopista do Dão até Santa Comba Dão. Com 50 quilómetros de comprimento, esta é provavelmente a ecopista mais bonita de Portugal. Passámos pelas estações antigas de comboio e descemos a serra até ao rio Dão ficar na nossa mira. Uma alternativa que vale a pena fazer – e um percurso que é sempre a descer!
Depois de chegarmos a Santa Comba Dão, voltamos à Estrada Nacional 2 e passamos pela casa onde o Salazar nasceu. Mais à frente, vamos paralelas ao IP3, nas estradas de acesso local. O percurso continua maioritariamente a descer. Existem apenas dois momentos em que temos de entrar no IP3: para atravessar as pontes sobre o rio Mondego. Os carros vão a velocidades mais altas, mas as bermas são largas e rapidamente regressamos às estradas de acesso local, depois de atravessarmos as três pontes sobre o Mondego.
Etapa 6 – De Penacova a Góis
Depois de um pequeno percurso junto ao rio, há um troço com uma forte inclinação, talvez a maior que encontrei em toda a Estrada Nacional 2. Pela primeira vez, sou obrigada a parar um par de vezes para recuperar o fôlego. Felizmente, a subida é curta e o percurso continua com inclinações mais suaves. Ao nos aproximarmos de Góis, é sempre a descer até à vila, onde há uma praia fluvial onde podemos recuperar energias.
Etapa 7 – Góis a Sertã
Esta foi uma etapa sempre a subir e a descer. Como fizemos bastantes quilómetros, acabou por ser um dia mais duro. À saída de Góis encontramos algumas subidas, mas à chegada a Pedrógrão Grande é sempre a descer até à barragem do Cabril (onde há uma bela piscina fluvial para refrescar). Atravessando a barragem, voltam as subidas até à aproximação à Sertã, onde há uma longa descida.
Etapa 8 – Sertã a Abrantes
Da Sertã a Vila de Rei há subidas bastante acentuadas e pela segunda (e última vez) tenho de parar para recuperar o folgo. Mas aqui já vamos a meio da Estrada Nacional 2. É à chegada a esta vila que encontramos o marco com o centro geodésico de Portugal. Depois de Vila de Rei, o percurso é maioritariamente a descer até Abrantes.
À saída de Vila de Rei há que ter atenção, uma vez que a nova variante até Abrantes faz agora parte da Estrada Nacional 2, mas não é esta a estrada antiga. Há uma pequena placa na rotunda à saída de Vila de Rei que indica “Rota EN2” e é por essa estrada que se deve seguir. É uma estrada muito menos movimentada, antiga, com curvas e contracurvas, e que passa pela serra e pelo Penedo Furado. Vale a pena os quilómetros a mais!
Etapa 9 – Abrantes a Montargil
Atravessamos o rio Tejo à saída de Abrantes e de repente tudo fica plano, numa imensa reta. É a aproximação ao Alentejo e o calor do sul já se faz sentir. Uma etapa que é mais fácil e nos ajudou a recuperar algum cansaço acumulado.
Etapa 10 – Montargil a Montemor-o-Novo
Este dia tem mais elevações do que o dia anterior, mas continua a ser maioritariamente plano, com subidas e descidas suaves. O maior desafio agora é o calor e tentamos acordar cada vez mais cedo. Pelo caminho, passamos por Ciborro, onde se encontra o marco de 500km da Estrada Nacional 2 e celebramos – meio milhar de quilómetros nas pernas!
Etapa 11 – Montemor-o-Novo a Ferreira do Alentejo
Mais Alentejo, numa paisagem que é constante. Acordamos mais cedo e pedalamos mais depressa para chegar a Ferreira do Alentejo antes que o sol comece a queimar. Mais uma vez, as descidas e subidas são suaves e, portanto, precisamos apenas de fazer uma curta paragem no Torrão.
Etapa 12 – Ferreira do Alentejo a Almodôvar
Com inclinações suaves e a temperatura a subir, continuamos a tentar pedalar depressa na planície alentejana. Vemos Aljustrel ao longe, mas não nos atrevemos a entrar na vila para não perder tempo. Fazemos uma curta paragem em Castro Verde e ainda paramos na feira artesanal do centro da vila, antes de seguir caminho até Almodôvar.
Etapa 13 – Almodôvar a Faro
É o último dia e começamos a pedalar depressa com vontade de ver o mar no final da estrada. À saída de Almodôvar iniciamos algumas subidas e descidas suaves em aproximação à serra do Caldeirão. Quando estamos quase a chegar ao Ameixial as subidas tornam-se acentuadas até chegarmos ao ponto mais elevado, a partir do qual começamos a ter algumas descidas. A partir de S. Brás de Aportel é sempre a descer até Faro.
Estrada Nacional 2 de Bicicleta: em resumo
Ainda que aos olhos de alguém que esteja neste momento com os músculos descansados num sofá tudo isto pareça uma epopeia hercúlea, fazera Estrada Nacional 2 de bicicleta foi muito simples. E, na verdade, não requer muita preparação, além de uma boa dose de perseverança e teimosia.
A minha bicicleta foi um simples modelo dos mais baratos da Decathlon: comprei apenas um par de luzes, umas luvas, um capacete, uma mala de bicicleta e uns calções almofadados. Este último, a compra de maior retorno, e no qual vale a pena investir numa gama superior. A minha mala pesava o mínimo possível e todos os dias lavava a roupa no local onde ficava alojada. Também não vale a pena levar comida porque todo o peso é dispensável e existem inúmeros cafés e restaurantes na estrada.
Apesar de não ser uma pessoa sedentária, não fiz qualquer tipo de preparação física. E, apesar de ter planeado a viagem em 17 etapas, consegui terminá-la em 13, porque cada dia conseguia fazer mais alguns quilómetros do que o previsto.
- Se houve momentos em que pensei que não ia conseguir? Sim, especialmente nos primeiros 5 dias, quando ainda tinha muito pela frente.
- Se me doeu o corpo? Claro, especialmente, depois dos dias de maior esforço.
- Se, em algum momento, tive medo por sermos apenas duas raparigas a viajar? Nunca por essa razão. O único dia que tive medo foi pelas condições meteorológicas. Apanhámos uma chuva torrencial, acompanhada de um nevoeiro cerrado num vale em que, simplesmente, não podíamos parar.
- Se pensei em desistir? Nunca, em nenhum momento.
- Se faria de novo? Sim! Esta foi talvez a viagem mais bonita e enriquecedora que fiz por Portugal, que me permitiu mergulhar no país de uma forma que eu não sabia que seria possível. Porque conhecer as serras, os vales, as vilas e as pessoas do país inteiro e viajá-lo apenas com a força das nossas pernas é uma descoberta que quem ainda só viajou com auxílio do motor não pode compreender.
Alojamento na Estrada Nacional 2
Reservei alojamento apenas nas nossas primeiras paragens: Chaves, Vila Pouca de Aguiar e Peso da Régua. Como nunca tinha feito nada do género, não tinha noção se iria conseguir fazer as etapas que tinha planeadas, portanto decidi não reservar mais nada a partir da Régua. Felizmente, tudo correu bem e até conseguimos terminar a Estrada Nacional 2 de bicicleta em menos etapas do que tinha pensado!
Na maior parte dos casos, decidimos parar em povoações maiores e procurar alojamento à chegada. Ainda existem muitas pensões e residenciais que não estão no Booking e que têm uma ocupação baixa, portanto tivemos sorte. São alojamentos simples, mas serviram a nossa necessidade.
Se estão a planear realizar a Estrada Nacional 2 de bicicleta, visitem também a Associação Rota N2 que promove o percurso. Para mais artigos sobre Portugal no Contramapa cliquem aqui. Acompanhem também a página do Facebook e do Instagram.
Próxima aventura/viagem?
Está no forno já… novidades em breve, mas é para os lados da Ásia!
Dia 19 de Novembro vou para o Vietname!!!!
Fico à espera para poder seguir a nova aventura. Ásia já estive em Taiwan e Japão. Gostei muito dos dois países
Olá Diana, Quanto dinheiro gastaste com bicicleta e equipamento, alojamento e alimentação?
Cumprimentos,
Olá José,
Vou tentar fazer um resumo dos custos, posso não estar a ser 100% precisa.
Equipamento – Eu levei a bicicleta da minha mãe, portanto apenas tive de comprar suporte (20€ Decathlon), a mala para a bicicleta (uns 40€, se bem me lembro), calções de boa qualidade (1 par – 50€), luvas (entre 5€ e 10€), capacete (10€ a 15€) e luzes (5€ euros cada). Portanto um total de 145€ em equipamento.
Alimentação – Entre 10€ a 15€ por refeição nos restaurantes locais: é fazer as contas pelo número de dias.
Alojamento – Entre 25€ e 40€ por quarto duplo, sendo que ficámos nos alojamentos mais simples. É também fazer as contas pelo número de dias.
Espero que tenha ajudado!
Olá Diana
Tens Instagram ou Strava?
Gostava de fazer a n2
Cumprimentos Teixeira
Olá Diana,
Estou a pensar fazer a EN2 em 2020. Para chegarem a Chaves qual foi o vosso meio de transporte? Sabes se existem estações de comboio próximas daquela cidade?
Este ano fui até à Tailândia, se ainda estás com ideia de ir para aqueles lados é um país lindo e fantástico para visitar.
Boas viagens para o próximo ano!
Até Chaves tive boleia do meu irmão, mas podes apanhar um autocarro Expresso até. Aconselho-te a ligar para lá para saberes as condições de transporte da bicicleta. Para regressar, voltei de comboio a partir de Faro.
Beijinhos e boa sorte! É bom ver outras mulheres interessadas em pedalar pelo país. Em toda a viagem vi dezenas e dezenas de homens de bicicleta. Mulheres vi apenas uma e não era portuguesa. Temos de perder o medo de explorar o nosso país!
Vou fazer em setembro deste ano. Estive a pesquisar melhor e vou optar por ir de expresso até chaves, é o mais direto.
Infelizmente ainda são poucas as mulheres que alinham nestas aventuras longas de bicicleta, quando fiz os caminhos de Santiago apenas via homens a pedalar.
Boas pedaladas e boas viagens!
Parabéns pela aventura.
Gostava de fazê-la um dia.
Foi dos relatos de viagem mais úteis que li para quem quer fazer a EN2 de bicicleta! Super objectivo!!!
Obrigado!
Olá Diana,
Estou a pensar fazer a N2 em bicicleta e gostei de ler esta versão para principiantes. Ficaram-me algumas perguntas:
1.) Onde deixavam as bicicletas durante a noite?
2.) Tiveram algum percalço técnico, como um furo; levavam equipamento para essas eventualidades;
3.) Algumas etapas são mais curtas que outras. Foi por opção ou por dificuldade do trajeto?
4.) Foi sempre fácil arranjar alojamento barato?
Obrigado.
Parabens ! fou fazer em Marco ,com 4 senhoras ( 60s ) . fico mesmo contente que haja mulheres a pedalar pelo nosso Pais. Obrigada .
Olá Diana
Deixa-me presentear sou o Nuno Pereira e tal como tu gosto muito de viajar
Já fiz algumas viagens… nas tu estás muito mais à frente…
Estou agora a planear uma viajem pela nacional 2 tal como tu já fizeste, já agora muitos parabéns para duas meninas e obra
E gostaria que me ajudasses
Nas três últimas etapas gostava muito que me dissesses onde é que pernoitaste é só o que me falta para fechar a logística
Muito obrigado
Boas viagens
Olá, antes de mais parabéns pelo espaço e informação relevante que partilhas.
Para mim foi útil conhecer o vosso registo diário da viagem, pela N2 de bicicleta. Estou a planear a minha para as próximas semanas, foi importante algumas notas que partilharam sobre as etapas.
Já subscrevi, boas viagens!