A pouco mais de uma hora de Lisboa, as Serras d’Aire e Candeeiros costuma ser um destino esquecido. Ali perto, há património histórico importante, como o Mosteiro da Batalha e o Mosteiro de Alcobaça, e uma costa selvagem com areais extensos, de Peniche à Nazaré. Num fim-de-semana de início de outono, coloquei de lado os pontos mais visitados e decidi ir em busca de uma região menos conhecida, além da superfície e no coração do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros.
Composto pela Serra dos Candeeiros, pela Serra de Aire e pelo Planalto de Santo António, o parque natural trata-se do mais importante repositório de formações calcárias existente em Portugal. Terra de morcegos (por aqui encontram-se 18 espécies) e de grutas (Grutas de Mira de Aire, Algar do Pena, Gruta de Alvados, Grutas de Santo António), esta é decerto uma região onde temos de descer ao mundo subterrâneo. Vamos visitar as serras d’Aire e Candeeiros?
A serra sobre rodas e a pé
Na aproximação às Serras d’Aire e Candeeiros, subimos ao Miradouro da Fórnea, junto a Porto de Mós (e onde podemos também encontrar a Cascata da Fórnea). Daqui, vislumbra-se a paisagem urbanizada, e conseguimos admirar o pasto seco de início de outono, tal como as escarpas e afloramentos que caraterizam este parque natural. O interior português fica tão perto de Lisboa. As casas vão ficando cada vez mais esparsas e somam-se os terrenos de cultivo, as oliveiras, os carvalhos e as azinheiras.
Para me imiscuir mais na serra, deixei o carro de lado e fui pelo meu próprio pé. Ali perto há o antigo caminho de ferro mineiro do Lena que me lança no Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros. A ecopista da Corredoura (PR7) é um percurso pedestre de 12 quilómetros circular, 7 dos quais são feitos pela antiga linha férrea desativada em 1950. Com vista para as montanhas, este é um trilho sem declives acentuados e com um piso regular de terra batida, indicado para miúdos e graúdos.
Pode ser iniciado no Lugar da Bezerra, junto às antigas minas de carvão e desce depois a montanha até Figueiredo. Na parte que atravessa a antiga linha ferroviária há vários pontos de descanso, parques de merendas, e, inclusivamente, iluminação ao longo do trilho. Depois, o percurso desce até um vale onde encontramos vários terrenos agrícolas que nos levam a um bosque e à parte mais selvagem do caminho. Na parte mais alta do percurso há ainda três moinhos de vento.
Das grutas ao esconderijo do urso
Para conhecer bem a serra, temos de ir além da superfície, mas não precisamos de ir muito longe. Contam-nos a lenda de um homem muito rico que foi assaltado por um bando de rufias. Na sua tentativa de fuga, o homem acabou por cair para um algar, levando consigo a bolsa de moedas que lhe estavam a tentar roubar. O dinheiro ficou perdido para sempre, mas ainda hoje o local é conhecido por Algar da Moeda.
Esta é a tradição, mas diz-nos a história oficial que as Grutas da Moeda foram descobertas em 1971. Até então, sabia-se que existia um grande buraco naquela zona, mas este era apenas utilizado para enterrar animais de grande porte. Foi apenas nos anos 70 do século passado que a gruta começou a ser limpa e explorada, para depois ser aberta ao público.
Composta principalmente por calcites, que formam as estalactites, as grutas atingem os 45 metros de profundidade. Ao caminhar por estas profundezas consigo compreender um pouco melhor a história natural da serra. Nas paredes conseguimos distinguir os fósseis que imortalizaram a vida que existiu em épocas remotas, e o teto é marcado pelos rios subterrâneos que aqui passaram, mas que agora se encontram a centenas de metros de profundidade. A brotar do chão as estalagmites dizem-nos que dentro de 5.000 anos o cenário será completamente diferente e marcado pelas colunas que se erguem.
Saindo das Grutas da Moeda, continuamos em busca de locais recônditos. Ali ao lado, encontramos a Pia do Urso, uma pequena aldeia reconstruída como ecoparque sensorial. Os motores dos carros apenas se escutam ao longe e por trás das casas de pedra encontramos um percurso pedestre sensorial, que passa por várias estações lúdicas e interativas que os mais pequenos vão adorar. Há moinhos de água, pontes de madeira, pequenas estações lúdicas, um parque de merendas e uma réplica da antiga pia do urso.
Em busca dosdinossáurios
Foi quando se iniciava a exploração da Pedreira da Galinha em 1994, que se descobriu um grande registo fóssil do período Jurássico: pegadas de alguns dos maiores seres que alguma vez povoaram o planeta Terra, os dinossáurios saurópodes.
Os saurópodes eram grandes animais quadrúpedes, de cabeça pequena, herbívoros e de cauda e pescoço compridos. Durante o período Jurássico o clima era mais quente e existiam aqui extensas massas de água pouco profundas. A vida era abundante e o clima tropical, quente e húmido, onde proliferavam densas florestas. Ao deslocarem-se, estes animais deixaram as suas pegadas na lama que, depois de seca, foi soterrada transformando-se em rocha ao longo dos séculos.
Conservadas ao longo de 175 milhões de anos, o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios mostra 20 trilhos destes seres, dois dos quais com mais de 140 metros de comprimento.
Antes de entrarmos no campo empedrado e nos aventurarmos a descobrir as marcas dos animais, somos convidados a ver um filme que explica a descoberta destes fósseis e a sua conservação. Depois, podemos explorar as impressões deixadas pelas extremidades dos membros posteriores e anteriores dos dinossáurios.
O mergulho de despedida na nascente do Alviela
Já em jeito de despedida da serra, vamos aos Olhos d’Água do Alviela, onde se encontra uma praia fluvial, requalificada em 2016 e muito popular entre a população local. Chegámos ao final do dia, e ainda estava repleta de jovens e de energia.
Por aqui, além dos mergulhos, existem várias atividades, já que este é um local de grande importância geológica: mais uma vez, nesta serra há muito além do que está à superfície.
O Centro de Ciência Viva do Alviela oferece-nos uma explicação da fauna e flora em redor, mas é através do pequeno trilho que conseguimos compreender a singularidade do local. Subimos por uma escadaria até ao miradouro da nascente do rio Alviela, à Gruta da Lapa da Canada e o sumidouro da ribeira dos Amiais (onde a água desaparece da superfície). Este percurso permite-nos compreender que a água que aqui nasce vai muito além da que vemos na praia fluvial, já que existem muitas cavidades subterrâneas, por onde a água se refugia para ficar armazenada debaixo da terra ao longo de quilómetros. O aquífero que aqui existe é um dos maiores da Península Ibérica e já chegou a abastecer a população de Lisboa através de um aqueduto.
Onde ficar nas Serras d’Aire e Candeeiros – Alojamento
Fiquei alojada no Luz Charming Houses, um hotel de charme boho que traz o melhor de dois mundos: o sossego e o contacto com a natureza de uma quinta, e o conforto e qualidade de um hotel com os melhores padrões. Assumidamente serrana e rural, entramos na propriedade por entre caminhos ladeados de oliveiras e azinheiras e somos recebidos por um chá quente, um biscoito e pelas boas-vindas de um papagaio.
Com quartos-casas confortáveis imiscuídos na propriedade rural, um caminho empedrado leva-nos à piscina. Mesmo ali ao lado, há um pequeno quiosque, uma capela e a casa dos animais que nos fazem parecer que estamos numa pequena aldeia. Tudo convida a repouso.
O pequeno-almoço é composto por produtos maioritariamente locais como queijada, doce caseiro, sumo de laranja, pão quente, broa e diversos tipos de bolos. O jantar segue a mesma linha, com opções focadas numa alimentação saudável e muitas escolhas vegetarianas – algo que está em linha com uma das minhas resoluções para 2020.
Preços e reservas: um quarto duplo no Luz Charming Houses custa a partir de 120 euros, com pequeno-almoço incluído. Poderá reservar aqui.
Onde comer nas Serras d’Aire e Candeeiros – Restaurantes
– Restaurante Tia Alice
Visitar as serras d’Aire e Candeeiros é também comer bem. Aliando o tradicional ao requinte, o restaurante Tia Alice tem uma ementa completa com os melhores petiscos da região. Começámos pelo queijo da serra com pão cozido no forno a lenha. Para prato principal, a escolha foi o arroz de pato. A sobremesa foi um leite creme queimado, uma especialidade da casa.
Preços e reservas: no restaurante Tia Alice o preço médio da refeição completa é de 25€. O espaço tem duas salas interiores e não tem espaço exterior. Caso queiram tentar reservar façam-no através do número: +351 249 531 737. Serve ao almoço e ao jantar. O espaço encerra ao domingo à noite e à segunda-feira.
– Restaurante OCrispim
Num ambiente de adega típica, o restaurante O Crispim serve do melhor que a comida tradicional portuguesa tem para oferecer. Optámos por um robalo de mar grelhado com migas de grelos, uma especialidade do Oeste e um favorito meu.
Preços e reservas: no restaurante O Crispim o preço médio da refeição completa é de 20€. O espaço tem duas salas interiores e uma esplanada no exterior. Caso queiram tentar reservar façam-no através do número: +351 249 532 781. Serve ao almoço e ao jantar. O espaço encerra à segunda-feira à noite e à terça-feira.
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