Num dos fim-de-semanas mais quentes deste ano (alerta suadeira demoníaca!), deixei as enchentes das praias do litoral para trás e rumei ao interior de Portugal. Mais precisamente, ao distrito de Castelo Branco. O destino foi principalmente o concelho do Fundão, onde pude conhecer algumas das Aldeias do Xisto junto ao Zêzere e a Serra da Gardunha.
Aldeias do Xisto no Zêzere
A rede de Aldeias do Xisto junta 27 povoações nos distritos de Coimbra e Castelo Branco que se destacam pelo seu património cultural, histórico e natural. Há as paredes de xisto bem preservadas, há monumentos emblemáticos, há praias fluviais, há vestígios dos nossos antepassados, há uma fauna e flora especial e uma gastronomia de nos pôr a salivar em menos de três tempos.
É preciso dizer mais?
A rede de Aldeias do Xisto está dividida em 4 zonas: Serra da Lousã, Serra do Açor, Tejo-Ocreza e Zêzere. E foram precisamente 3 das aldeias do Xisto junto ao rio Zêzere que decidimos visitar.
Pedrógão Pequeno, Barragem do Cabril e Ponte Filipina
A primeira paragem foi a Barragem do Cabril, junto à aldeia de Pedrógão Pequeno. Os termómetros subiam rapidamente e tínhamos de começar o dia com um mergulho para refrescar. Depois, subimos ao Monte da Nossa Senhora da Confiança, junto à aldeia, para apreciar a vista panorâmica sobre a Barragem e o Rio Zêzere.
Atravessámos a pequena aldeia e fomos conhecer o monumento mais emblemático desta zona: a Ponte Filipina. Depois de descermos aos ziguezagues por uma estrada a pique, chegámos a esta ponte construída no início do século XVII durante a dinastia filipina. Durante quase 350 anos, esta ponte foi a única ligação entre Pedrógão Pequeno e Pedrógão Grande… ou seja a única ligação da aldeia ao litoral do país.
Janeiro de Cima, Praia Fluvial e o linho
A nossa segunda Aldeia do Xisto foi Janeiro de Cima a cerca de 60kms. Por um trajecto realizado junto ao Zêzere, chegámos a esta pequena aldeia, localizada bem à beira do rio. Tão à beira que basta descermos a rua principal de Janeiro de Cima de toalha ao ombro e caminharmos para a praia fluvial. As temperaturas continuavam a bater recordes e fomos obrigados a ir a banhos uma vez mais…
Além da água fresca do rio, esta aldeia é conhecida pela produção têxtil de linho. Vale a pena conhecer a Casa das Tecedeiras, onde ainda se fabricam peças de linho de forma tradicional e tirar uma fotografia junto ao Tear Gigante, mesmo ao lado.
Barroca, a tradição agrícola e as gravuras rupestres
A nossa terceira e última aldeia do Xisto foi a Barroca, onde se encontra a sede da rede de Aldeias do Xisto. Esta não é a povoação mais pitoresca, mas podemos beber o ambiente agrícola de uma aldeia isolada numa morro, entre dois cursos de água.
A partir desta aldeia é também possível realizar um percurso em busca das Gravuras Rupestres nas margens do rio, com as Minas da Panasqueira no horizonte. São aliás muitas as caminhadas e trilhos que podem ser realizados a partir das Aldeias do Xisto, à descoberta do nosso património natural.
Serra da Gardunha: das cerejas aos OVNIs
Localizada a sul da Serra da Estrela, a Gardunha, no concelho do Fundão, é ainda pouco conhecida e visitada. Tem 20km por 10km de cumprimento e atinge uma altitude de pouco mais de 1200 metros, sendo a primeira grande fronteira entre o norte e o sul de Portugal.
Apesar de ser pequena em termos de área, a serra tem uma grande diversidade biológica, com o granito e xisto a marcarem uma presença constante. A paisagem é pautada por castanheiros e cerejeiras, ou não fosse o Fundão a capital nacional da cereja!
Aqui, na aldeia de Alcongosta (por onde se sobe para o topo da serra) realiza-se anualmente entre Maio e Junho a Festa da Cereja. Durante quase uma semana podemos provar todo o tipo de gastronomia feita com a cereja como ingrediente. E, também, aprender a confeccionar através dos vários workshops. Mas a cereja não é a única iguaria da serra.
Ao longo do ano, pelas povoações da serra existem também um Festival do Grelo, uma Feira do Queijo e um Festival do Cogumelo.
Para aqueles que gostam de mistérios, a serra da Gardunha é também um destino predilecto para quem anda à caça de actividade extraterrestre. Diz-se por aí que fenómenos estranhos acontecem nas encostas do Fundão, entre eles avistamentos de OVNIs e casos de abdução por entidades alienígenas… Quer acreditemos, quer não, estas histórias cobrem a serra de uma aura enigmática.
Nós não andámos à procura de seres de outros planetas, mas subimos à Torre de Vigia para apreciar a vista espectacular sobre a Serra!
Onde Comer na Serra da Gardunha
– Restaurante As Tílias, Fundão
Há restaurantes onde sentimos que existe um amor pela gastronomia. Uma dedicação especial, quase carinho. É o caso do restaurante As Tílias, que encontrámos na cidade do Fundão, junto à Serra da Gardunha.
Fundado em 2005, o espaço foi idealizado como “take-away”, mas o sucesso das refeições da Sra. Etelvina foi tanto, que, pouco tempo depois, o restaurante surgiu. Hoje, tem uma lotação de cerca de 25 pessoas e continua a funcionar também como “take-away”.
Aqui, podemos provar o melhor da gastronomia regional, mas também criações próprias da casa, idealizadas e confeccionadas pela Sra. Etelvina, que conhece os ingredientes da região como ninguém. Algumas das especialidades da casa incluem o maranho, lombinhos de porco com castanha e cereja, esparregado, bochechas de porco preto e supremo de frango à serrana.
A Refeição
Pedimos uma entrada de friteres de queijo com cereja, acompanhados de salada. Deliciosos e muito gulosos para começar.
Para refeição principal, escolhemos duas especialidades da casa. Primeiro o maranho, um prato típico da região que consiste em pele de estômago de vaca recheado com arroz, carne, presunto e ervas aromáticas. Tem um sabor forte, mas os bons garfos vão apreciar. De seguida, provámos os lombinhos de porco com molho agridoce acompanhados de castanhas, cerejas e espinafres. As castanhas crocantes estavam assadas na perfeição e a cereja acompanha bem o lombinho. Fiquei deliciada com este banquete ao final do dia!
Para sobremesa, uma mesa de queijo de cabra com doce de pera e cogumelo shiitake e uma gelatina caseira de champagne com framboesas. A sobremesa refrescante ideal para terminar um dia com temperaturas máximas a bater recordes!
Preços & Reservas
Uma refeição completa no restaurante As Tílias custa a partir de 15 euros. Como o espaço é pequeno, convém fazer uma reserva, que pode ser feita através: +351 275 77 22 69 ou +351 963 082 651.
Localização
Rua dos Restauradores, R/C Loja B, Fundão
– Restaurante O Fiado, Janeiro de Cima
Na pequena aldeia de Janeiro de Cima, existe um reduto gastronómico que vale a pena conhecer. O restaurante O Fiado foi requalificado no âmbito do programa das Redes de Aldeias do Xisto e oferece uma gastronomia regional com aprumo para quem passe por estas bandas.
A refeição
A cozinha no Fiado é bem tradicional, com pratos como cabrito no forno, bacalhau com broa, javali, chanfana, maranho e polvo à lagareiro. Saltámos as entradas e fomos directamente para o prato principal. Primeiro, perca assada com batata, presunto e broa. Depois, cabrito assado com batata e migas de broa. Ambos os pratos cozinhados na perfeição, o primeiro mais saudável e o segundo bem suculento para quem põe a dieta de lado.
Para rematar, não resistirmos às sobremesas caseiras e fomos directos para um cheesecake de frutos vermelhos e uma sinfonia com pudim, bolo de chocolate e leite creme. E não é que foi um dos melhores cheesecakes da minha vida?!
Preços & Reservas
A refeição completa no restaurante O Fiado custa a partir de 18 euros. Com lotação para cerca de 80 lugares, não me pareceu que o restaurante esgostasse com facilidade. Se ainda assim quiserem reservar uma mesa, poderão fazê-lo através do telefone: +351 272 745 024.
Localização
Rua do Espírito Santo, n5, Janeiro de Cima, Fundão
Onde Dormir / Alojamento: Natura Glamping
Se disser que o Natura Glamping pôs a Serra da Gardunha no mapa poderá não ser um grande exagero. O local onde ficámos alojados valia, por si, a viagem ao Fundão!
Ora, comecemos pelo início. Glamping é um conceito que se começou a popularizar nos últimos anos e que junta os termos “glamour” e “camping”. Se estão fartos de carregar tralha e montar tenda, esta pode ser uma solução. A ideia do glamping é tornar o campismo mais confortável e mais cómodo. Queremos ficar próximos da natureza, mas podemos também ter mais espaço, uma cama decente e lençóis lavados.
No caso do Natura Glamping, onde ficámos alojados, trata-se de um verdadeiro turismo de natureza de luxo.
Fundado há um ano e meio, o Natura Glamping fica a caminho do topo da Serra da Gardunha, logo depois da aldeia de Alcongosta. Com uma vista de montanha a perder de vista, é um refúgio ideal, quer para uma noite quente de verão, quer para apreciar um nevão durante o inverno. Podemos ficar a contar as estrelas a partir do alpendre do nosso domo ou a beber um chá enquanto vemos um nevão a cair na serra a partir de dentro do domo…
Cada um dos domos geodésicos (a partir de 95 euros) é uma espécie de redoma gigante e vai muito além de uma mera tenda! As estruturas funcionam como um quarto com capacidade para 4 pessoas, duas camas de casal, casa-de-banho privativa, ar-condicionado e wi-fi. Tudo o que poderia ser encontrado num quarto de hotel de 4 ou 5 estrelas. Mas com muito mais estilo!
Além do alojamento num dos domos, o Natura Glamping oferece também o pequeno-almoço com alimentos locais (sim, cereja!). Podem ser marcadas várias actividades pela serra: passeios a cavalo, caminhadas fotográficas, trekking, ioga, passeios de balão, entre outros. As reservas podem ser realizadas a partir daqui.
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Adorei este post, o roteiro que fez e o relato. Tenho uma questão: aconselha a fazer o mesmo roteiro em pleno inverno? Em janeiro por exemplo? Ou aconselha a fazer a exploração das aldeias do xisto apenas na primavera e o verão?
Olá! Achique é um roteiro que pode ser feito ao longo de todo o ano, até porque no inverno é muito giro encontrar tudo coverto de neve! 🙂 no pico do verão é preciso é ter cuidado porque pode fazer muito calor, mas há sempre as praias fluviais que são mais que muitas!
O Diana.
Não tenho visitado ao interior de Portugal. Suas fotos são muito bonitas e inspiradoras para para fazer uma visita.
Bom fim de semana. Matti. (Finlândia)
Ainda não conheço Portugal, mas a cada post que leio me encanto mais por este país incrível! É tanto lugar legal pra conhecer que fico sem saber por onde começar meu roteiro, mas a idéia de fazer glamping na Serra da Gardunha não me pareceu nada mal!
É uma experiência fantástica e em família deve ser ainda melhor!
Que post mais lindo. Quando fomos a Portugal acabamos não visitando as aldeias. Mas deixa eu contar uma coisa, de suas fotos, as que mais gostei foram as de comida 😀 Como a culinária portuguesa é maravilhosa! 😀
Pois é e muito do Brasil! 🙂
O interior de Portugal, para mim, é onde encontramos o país mais autêntico, mais agarrado às tradições. Adoro descobrir lugares novos como este. Obrigado pela dica.
Muito verdade! Obrigada pelo comentário 🙂
Tear gigante, glamping, e quantas histórias e belezas dessa terra! Que vontade de conhecer Portugal! Será o nosso primeiro destino assim que eu botar os pés na Europa! Sucesso!
Obrigada Daniela!
Olá Diana, essas fotografias maravilhosas de comida são uma maldade para quem adora comer como eu, adorei o roteiro e vou mesmo segui-lo um dia destes. Assim que comecei a ler o post e vi Fundão lembrei-me logo das cerejas 🙂 e fiquei com muita vontade de fazer um passeio de balão, não fazia ideia de que era possível. Beijos
Eu também não e acho que para a próxima ando mesmo de balão!
Parei de ler quando vi cereja e minha boca encheu de água! ahhhh que delícia!
No Brasil é meio difícil de achar, mas aqui no Chile – onde tô vivendo agora – tem muuuuuito! Aí me esbaldo no verão <3 Tenho mais uma desculpa pra visitar esse lugar charmosíssimo e me deliciar 🙂
Ahah sim, então tens de ir à Festa da Cereja do Fundão!
Que lugar lindo e que relato maravilhoso! Rolei de rir com o “alerta suadeira geral” =D
Que bom que tem uns lugares interessantes pra se refrescar! Um abraço!
Lili @trilhasecantos
Está um calor terrível em Portugal Liliana!!
Excelente guia de vagem para as Aldeias de Xisto e para a Serra da Gardunha, uma região que ainda não conheço, mas já andei por lá perto!
Vale muito a pena Pedro!
Que lugar lindo! Já tinha ouvido falar das Aldeias do Xisto, inclusive li dois posts a respeito semana passada. Vejo que preciso voltar a Portugal… 🙂
Este artigo levou-me a viajar até ao Portugal Exótico. Gosto. Bravo ContraMapa 😀