E eis que, depois de quilometros de estrada (ler aqui), chegamos ao Zion National Park pela calda da noite. Tinhamos andado a cata de uma bomba de gasolina em que a torneira de ar de pneus funcionasse para encher o nosso colchao insuflavel, e estavamos estafados. Quando chegamos ao parque de campismo do Zion National Park, so pensavamos em dormir e foi exatamente isso que fizemos. Estendemos o colchao na traseira da nossa SUV, puxamos do saco-cama e dormimos ferrados…
Quando acordamos nem nos lembravamos sequer de onde tinhamos estacionado. Portanto nao estavamos minimamente preparados para o espectaculo que o nascer do sol nos trouxe. Abrimos os olhos e descobrimos que tinhamos vindo dar a um dos melhores segredos dos Estados Unidos!
Da para notar que este foi o meu parque natural preferido? Ora leiam…
Ora imaginem um vale dourado ladeado de penhascos de tons avermelhados. Com quase 600 quilometros quadrados, o maior dos penhascos (ou canyon, como dizem os americanos) eleva-se a 2.660 metros de altitude.
Apesar de o parque estar aparentemente cheio de visitantes, estes apenas podem visitar uma parte do parque e o acesso e altamente condicionado. Por exemplo, e obrigatorio ficar num dos alojamentos ou campismos locais e estes esgotam facilmente, sendo preciso reservar com semanas ou ate meses de antecedencia. Dentro do parque, e proibido utilizar viatura propria e existe um autocarro eletrico que percorre o vale, deixando os visitantes em pontos especificos para iniciarem as caminhadas pelo parque.
E esta, heim? Quem diria que, com esta organizacao e preocupacao com a preservacao, este parque ficasse no coracao dos Estados Unidos? Eu fiquei altamente impressionada com o funcionamento do parque e com os rangers, que protegem o parque, dao dicas aos visitantes acerca das caminhadas, organizam palestras e atividades, e lancam alertas quando uma tempestade de avizinha. Viria a descobrir mais tarde que este e alias o modelo de funcionamento de todos os parques nacionais dos Estados Unidos, num total de 59 parques geridos pelo National Park Service.
O melhor disto tudo? E que parece que a natureza esta em plena harmonia com o homem. Ao final do dia, os veados descem a montanha e vem ao vale onde se encontram os campistas, para se alimentarem da erva mais fresca e beberem a agua do rio. E, as vezes, a natureza ate nos faz companhia demais. Como aconteceu no caso em que acordei de manha, e me deparei com uma bela de uma tarantula mesmo a entrada da casa de banho do campismo… Mas, aparentemente, toda a gente vive em paz com isso! Basta ir lavar a loica do pequeno-almoco para outro lado qualquer onde nao haja aranhas mortiferas…
E que dizer das caminhadas propriamente ditas?
A entrada do parque temos o centro de visitantes que disponibiliza a informacao essencial, ate para o caminhante mais inusitado. Ha trilhos para todos os niveis. Desde caminhadas de 1 hora por caminhos direitinhos, a trekkings que levam um dia inteiro a fazer e nos poem a prova a cada minuto… E so escolher o que melhor se adapta ao nosso perfil e esta e a parte que nao e preciso planear previamente, porque os rangers estao la para nos aconselhar. Eles dao-nos mapas pormenorizados para todos os trilhos, e ainda nos explicam como chegar, o que levar e, ate, como estao as condicoes metereologicas no percurso! Preocupem-se apenas com levar calcado e roupa apropriada, uma garrafa de agua e snacks para o caminho.
Nos estivemos no parque durante 2 dias e fizemos cerca de 6 caminhadas (algumas de 1 hora, outras que ocuparam meio dia). Estes foram os dois percursos que mais me marcaram… Claro que foram os mais dificeis, longos e desafiantes. No pain, no gain!
Angel’s Landing – 9kms / 4 horas
O percurso do Angel’s Landing e um dos mais dificeis de concluir. Primeiro, temos de subir durante 2 horas para chegarmos ao topo de um penhasco.
E quando pensamos que chegamos ao fim da tortura, eis que o penhasco fica assustadoramente, sim, ASSUSTADORAMENTE, ingreme e estreito. Tanto, que existe uma correia de ferro na qual temos de nos agarrar. E la vamos nos puxando para chegar la acima, rezando para que nao hajam rajadas de vento muito forte.
E, claro, que quando chegamos a esta parte do percurso, existe uma placa que simpaticamente nos avisa do numero de aventureiros que ja faleceram naquele mesmissimo lugar.
Fantastico, nao e? Eu, obviamente, nao tive tomates (nem ovarios, nem nada que me valha) para me alistar em tal maluqueira. Sou demasiado desajeitada e prezo muito a minha vida. Restou-me ficar mais de uma hora a espera que o meu mais-que-tudo voltasse para baixo pelo mesmo caminho que subiu, e nao em queda livre. Felizmente, ele tirou algumas fotografias que provam o suicidio colectivo que e subir o Angel’s Landing…
The Narrows – 15 kms / 8 horas
No percurso The Narrows, o elemento desafiador e a agua, ja que o caminho consiste basicamente em subir rio acima entre dois penhascos que se vao aproximando, tornando assim o percurso cada vez mais estreito (narrow, em ingles).
Aqui, alem de irmos andando dentro do rio contra a corrente com os pes ensopados, vamo-nos sentindo cada vez mais claustrofobicos, com as placas de pedra que se vao aproximando entre nos, e com a profundidade do rio que vai aumentando a medida que o leito fica mais estreito.
Neste percurso fizemos batota e decidimos voltar para tras. E que a dado momento, para continuarmos, teriamos de mergulhar e continuar a caminhar rio acima com agua ate ao pescoco. Tinha chegado ao meu limite e, portanto, decidimos voltar para tras pelo mesmo caminho, que e, alias, a unica saida do troco…
Para mim, o Zion National Park foi uma experiencia incrivel e uma superacao de limites. Mas o parque tem muitos outros percursos com diferentes niveis de dificuldade e apropriados para familias e visitantes com algum tipo de dificuldade motora.Vejam aqui o resumo completo dos percursos do Zion National Park. O parque tem diversos parques de campismo, 1 pequeno hotel, supermercado e restaurante. Para mais informacao, consultem o site oficial do Zion National Park, onde encontram todos os detalhes para planear a vossa visita.
Vejam o Roteiro de 1 mes nos EUA e todos os posts da US Road Trip 2015. Podem tambem acompanhar o Contramapa no Facebook, Instagram e Twitter.
Que viagem…
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Verdade
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Essa tarantula! -_- Viram mais alguma? Nenhum dos dois tem medo de aracnideos? Afinal, e uma das fobias mais comuns. De resto, muito bonito mesmo.
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Por acaso, nao tenho medo nenhum. Acho que ate me aproximei demasiado para tirar a foto, ela podia ter saltado… enfim. Vimos duas: uma no meio da caminhada, e outra mesmo ao lado de onde estavamos a dormir, ao lado do lavatorio do campismo. Foi lindo sim, o meu parque nacional preferido😀
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