Nao e um destino obvio em Portugal, mas a pouco mais de uma hora de Lisboa, Mora abre-nos as portas ao Alentejo, com boa gastronomia e um mergulho nas aguas fluviais e na nossa historia remota. Aceitam pôr o pe dentro de agua?
Mora: a natureza e o megalitico no Alentejo
O fim-de-semana em Mora comecou no Parque Ecologico do Gameiro, junto a ribeira da Raia. Por aqui, podemos desfrutar de uma praia fluvial que se estende ao longo de uma pequena baia. Para os que gostam de dar a sola, o passadico de madeira junto ao rio estende-se ao longo de 1500 metros. Mas os mais aventureiros podem continuar: o trilho continua em terra batida por mais 1500 metros junto ao rio e regressa pelo interior, a Zona do Montado, ja junto a Mata Nacional do Cabecao.
Ao todo, sao quase 6km de percurso, por entre choupos, salgueiros, sobreiros e pinheiros. Quem se aventurar por este caminho, nao perca o rio do horizonte – se tiverem sorte, ainda veem uma lontra a deleitar-se nas aguas fluviais alentejanas.
No final do percurso, e altura de visitar o ex libris do municipio: o Fluviario de Mora. Dedicado aos ecossistemas de agua doce, os aquarios permitem-nos dar uma volta ao mundo em apenas algumas centenas de metros. Uma experiencia didatica para miudos e graudos. O percurso comeca pelas aguas nacionais, onde encontramos especies mais cinzentonas: ruivacos, bordalos, gobios, percas, esturjoes, cumbas, cagados, douradas, sargos, robalos e salemas.
A medida que vamos caminhando pelos aquarios encontramos especies mais exoticas, mais coloridas: a capra koi do Japao, os discos da America do Sul e os ciclideos africanos. Existe ainda uma zona de repteis e de lontras que perfazem, no total, 69 especies animais.
O inicio da tarde comecou com a visita ao Museu Interactivo do Megalitismo de Mora. Moderno e amplo, a construcao arquitectonica lembra-nos as camadas do solo, que vao dividindo as diferentes alas que representam as fases da vida na civilizacao neolitica, como a morte, a vida e a contemplacao.
Dando a conhecer o legado arqueologico da regiao, a melhor forma de visitar este espaco e com um dos guias do museu, que nos sabem explicar a historia por tras dos artefatos de xisto e das recriacoes dos cromeleques. Nao deixem de reparar nas Placas de Gres. Estas figuras tipicas do norte alentejano que se assemelham a humanos apenas se encontram nesta regiao.
Pavia: em busca das palavras de Namora
Sendo a povoacao mais antiga do concelho de Mora, Pavia tem uma longa historia, tendo sido habitada desde tempos pre-historicos. E esta a nossa proxima paragem.
A imagem de marca da vila e a anta-capela de S. Dinis, monumento nacional com 4,3 metros de diametro. A anta de grandes dimensoes foi transformada numa capela no seculo XVII, altura em que foi acrescentada a entrada um alcado, onde se abre uma porta em arco. Ao entrar na anta-capela, encontramos um pequeno altar revestido de azulejos azuis.
Mesmo ao lado, encontra-se a Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia, pintor local, autor de numerosas litografias coloridas a mao. Uma das suas obras mais conhecidas e o conjunto de 15 desenhos denominados Liricas.
Bem mais conhecido, e o escritor Fernando Namora, que, ao exercer a sua profissao de medico, chegou a viver nesta vila alentejana e a escrever sobre as suas gentes.
Ao percorrer as ruas quase desertas de Pavia (hoje, com pouco mais de 900 habitantes), conseguimos sentir um vislumbre das descricoes de meados do seculo XX, quer seja ao entrar pelas antigas igrejas da vila, quer seja ao contemplar a planicie alentejana a partir do Miradouro.
O fervor religioso de Brotas
Conta a lenda que um pastor distraido deixou que a sua vaca caisse por uma ribanceira e morresse. Em desespero por ter perdido a sua unica fonte de sustento, apelou a Virgem, que acedeu e lhe pediu que ali construisse uma capela. Assim, nasceu a pitoresca vila de Brotas e ganhou o pastor a sua vaca de volta. A capela de Brotas que surgiu naquele local tambem se imortalizou, tal como a Nossa Senhora de Brotas, caracteristica por lhe faltar um braco.
Este fervor religioso acompanhou a historia da povoacao, que hoje se destaca por uma igreja muito singular. Pintada de azul, a varanda da igreja tornou-se um pulpito improvisado, revestido de azulejo. Isto porque o interior do santuario era demasiado pequeno para o numero de fieis que ali se reunia e o padre viu-se obrigado a pregar da varanda para uma audiencia de 8.000 pessoas.
E por isso que esta e tambem uma terra de muitas confrarias: chegaram a ser, ao todo, 17 casas dedicadas a receber e a alojar quem vinha de longe para venerar a Nossa Senhora de Brotas. Ainda hoje, a igreja tem muitos visitantes, alguns dos quais do Brasil, onde existem 11 cidades com o mesmo nome, criadas em nome da Nossa Senhora de Brotas.
Na freguesia, ha que visitar tambem as ruina da Torre das Aguias e as inumeras fontes, que deram origem ao nome da povoacao, de onde brotava muita agua.
O rio mesmo aqui ao lado
E nao poderia terminar a visita ao concelho de Mora sem regressar a agua. No local da confluencia de tres ribeiras, rodeada de cascatas, rapidos e azenhas, terminei o fim-de-semana com algo inesperado. Em pleno Alentejo, as Azenhas da Seda organizam atividades aquaticas como canoagem e percursos aquapedestres. Quem diria que nas calmas planicies alentejanas haveria agua propicia a subir a adrenalina?
Aceitei o desafio – devidamente equipada, diga-se – e durante duas horas andei de pe dentro de agua, atravessando o rio, subindo cascatas e, ate, atirando-me de quedas de aguas.
Mas, nao se assustem: para quem quer apenas desfrutar da tranquilidade da regiao, as Azenhas da Seda tem tambem uma praia fluvial privada e alojamento glamping.
Onde Comer em Mora (Alentejo)
Quando estive em Mora, visitei quatro restaurantes do concelho, onde provei a gastronomia tipica do Alto Alentejo: o restaurante O Antonio, em Mora, o restaurante do Fluviario, tambem em Mora, o restaurante O Poco, em Brotas, e o restaurante O Forno, em Pavia. Leiam o artigo completo sobre os restaurantes de Mora.
Onde Dormir em Mora (Alentejo)
Durante a minha visita ao concelho, fiquei alojada no Hotel Solar dos Lilases, na vila de Mora. Recuperado pelo sr. Jaime, um homem da cidade que se apaixonou pelo Alentejo, e ele quem faz as honras da casa quando entramos nesta antiga casa senhorial.
O que mais me surpreendeu neste hotel foi o pequeno-almoco caseiro que pode ser tomado na varanda, com vista para a piscina do hotel, para a vila de Mora e para o rio Raia. Tudo aqui era uma delicia: dos doces caseiros, aos bolos, a broa e ao pao fresco, tudo trazido pelo sr. Jaime de produtores locais, ou feito mesmo aqui, no hotel.
Um quarto duplo no Hotel Solar dos Lilases custa a partir de 55 euros, com pequeno-almoco incluido.
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