Isto e Africa sem interrupcoes. Africa fora de epoca.

No Atlas, meio metro de neve, temperaturas negativas e uma tagine saborosa a beira da estrada, numa vila do mais comum que possa existir. Isto, claro, para quem vive em Marrocos. Para nos, europeus, meio borrego pendurado a porta da tasca e tudo menos rotina. Gente simpatica, com uma mao para a hospitalidade e a outra para a cozinha. Cha de menta para aquecer e uns amendoins para o caminho. Afinal de contas, entre Marrakech e Ouarzazate estao 4 horas sinuosas de percurso.

marrocos de mota

Pomo-nos ao caminho. Ao longe, aparecem montanhas. De cor creme, massivas e asperas, talhadas por enxurradas de primavera, aos poucos revela-se uma aldeia que vive em simbiose no peitoral nu da montanha. Casas de adobe, esculpidas em barro que lembram formas geometricas. De um lado, penhascos, do outro, uma aldeia. Camuflagem natural.

marrocos de mota

As formacoes montanhosas sao argilosas e o ar respira fertilidade. Os vales perseguem o horizonte e as palmeiras florescem no caminho. No inverno estas paisagens continuam inospitas e lunares, mas mudam com o soprar do vento, a medida que as cores dancam. Ha colmeias no meio do deserto, pocos sem fundo algures e familias de camelos que viajam entre nenhures em busca de pasto.

A 25 quilometros a oeste de Erfoud, completamente no meio de nada, surge-nos algo completamente inesperado. Venho a descobriu mais tarde que nasceu pela mao do artista Hannesjörg Voth um conjunto de estruturas artisticas, com forma de escadarias – e por isso apelidadas de stairway to heaven. A mais emblematica talvez seja a City of Orion, onde cada escadaria reflete a posicao de uma estrela na constelacao de Orion, e a sua altura a intensidade da mesma.

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Mais a frente, pelo mapa do GPS descubro um lago que outrora inundou estas paragens. Mas a emblematica Africa Twin continuava a levantar po planicie fora, numa superficie que de tao clara e lisa causava miragens a distancia. A minha volta, um assombroso nada. Uma duna perdida aqui, uma familia de camelos alem e finalmente avistamos o acampamento berber.

marrocos

A ausencia de qualquer tipo de luz durante as noites de lua nova faz resplandecer o ceu numa orquestra cintilante. A medida que a vista se habitua ao escuro, mais e mais estrelas sao reveladas. A nocao de profundidade instala-se e por momentos conseguimos navegar pela via lactea, sentindo, quica, o que ha milhares de anos os nossos ancestrais sentiram.

Os canticos berber sobre o deserto animam a noite a volta da fogueira ao ritmo percussionista africano, pela mao de Mohammed Di Sahara e seus compatriotas. Aqui, no acampamento em Ouzina Rimal, temos vista para a cordilheira de montanhas que separa este Marrocos da Argelia.

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Continuamos deserto adentro e perto de Merzouga, ainda no seu horizonte, as dunas ocre comecam a erguer-se ao longe. Mas e so em Erg Cherbi que conseguimos perceber a sua dimensao. Uma apos outra, vao aumentado em tamanho, numa ondulacao que nos lembra um mar tempestuoso que, de alguma forma, consegue manter a superficie um belo manto sedoso.

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Os hoteis escondem a sua beleza num exterior humilde, rude ate, que se assemelha a um castelo fortificado, todo ele em adobe, camuflando-se na paisagem. Quando entramos, encontramos um outro mundo: todas as comodidades, uma decoracao de um bom gosto inimaginavel e uma simpatia hospitaleira. Ate o mais modesto Riad por estas paragens sulistas consegue surpreender e fazer frente a outros estabelecimentos com o triplo do orcamento.

Vamos percorrendo as aldeias, cada uma diferente da anterior, mas a alegria das criancas igualmente contagiante. O barulho das motas a chegar fazia-as correr ao nosso encontro de mao estendida e sorriso nos labios, acenando energeticamente a nossa passagem.

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Entre tagines, couscous e sumos de laranja, os fartos pequenos almocos compostos de compotas frescas, croissants e paes caseiros, complementados por ovos mexidos na hora e panquecas quentes, encontramos uma gastronomia que nos encheu as medidas para la do razoavel. Em cada bar, uma cerveja Casablanca, um pires de azeitonas locais e outro de amendoins. Em Marrakech, num dos restaurantes mais populares da cidade, o caril de frango deixou-me a suspirar por mais. E a sobremesa, essa, dancava muito bem!

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Percurso em Marrocos de Mota:

Esta viagem foi realizada de mota em Marrocos em Fevereiro de 2018. A viagem iniciou-se em Lisboa e durou 9 dias. As principais paragens do percurso encontram-se abaixo:

Filipe Guerra

Nascido e criado na Margem Sul. E por la vivendo. Nas horas vagas e dias de folga, dedica-se a explorar outras paragens, especialmente a pe e de bicicleta. Quis tirar uma Licenciatura com Mestrado Integrado em BTT. Nao havia. Tirou Engenharia Informatica e dedica-se a que haja menos ataques de nervos nas empresas por causa do SAP.

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