Ao entrar no vale que guarda a aldeia de Rio de Onor nao sabia muito bem o que esperar. Ja tinha lido que recentemente a aldeia tinha sido eleita uma das 7 aldeias maravilha de Portugal e que era conhecida pelo seu comunitarismo ancestral. Mas tudo o resto era uma incognita para mim.

rio de onor

Ao entrar na aldeia, a primeira coisa que me surpreendeu foram as casas tradicionais. Bem conservadas e construidas em xisto, sao exemplos da arquitetura da regiao. As mais pitorescas que encontrei estao a beira-rio, onde as varandas dao diretamente para a agua.

rio de onor

Quem me conhece, sabe que gosto de pequenas povoacoes isoladas e Rio de Onor nao demorou muito a conquistar-me. Perdi-me a passear pelo vale amplo junto a agua fresca do rio, pelos campos de cultivo e pelas ruas estreitas de pedra, que se entrelacam umas nas outras.

No unico cafe da aldeia encontrei os rapazes da velha guarda. Avidos de conversas de outras paragens, trocam olhares e rapidamente nos pomos em contacto. Pergunto-lhes pela historia da terra e, de repente, ja somos amigos e tratam-me por menina. E verdade, os transmontanos nao sabem so receber. Sabem como nos fazer sentir em casa.

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Rio de Onor, a aldeia comunitaria

Tendo pertencido a Casa de Braganca, Rio de Onor encontra-se dentro do Parque Natural de Montesinho. Sabe-se que e uma povoacao raiana com seculos de existencia. Faz fronteira com a homonima Rihonor de Castilla e ha quem diga que sao a mesma povoacao, distinguindo-se apenas por povo de acima (espanhol) e povo de abaixo (portugues). Partilham ate um dialecto, que hoje se encontra quase extinto: o rionores.

rio de onor

Ja as sinergias dentro da aldeia, vao muito alem da lingua. Aqui encontra-se o ultimo resquicio do comunitarismo medieval. Significa isto que a populacao partilha terrenos, equipamentos e animais. A administracao local e composta por dois mordomos, eleitos anualmente por uma assembleia com representantes de todas as familias da povoacao.

rio de onor

Ao longo do ano, os mordomos fazem a alocacao das tarefas, alternando-as entre os varios trabalhadores da aldeia. Se este mes es pastor, para o mes que vem vais fazer a rega dos campos. Quando alguma coisa corre mal, a vara da justica garante o cumprimento das regras e aplica multas, muitas vezes pagas em vinho ou azeite.

Infelizmente, esta veia comunitaria tem vindo a desaparecer ao longo dos anos. Os filhos tem a vida em Braganca, os netos no Porto. Dos animais, ja nao ha quem cuide. Apontam-me o campo a volta, com algumas macarocas de milho, cabacas e couves. Antes, aqui nao havia nada por cultivar.

rio de onor

Mas a beleza, essa, ninguem lhe tira. Continuo a visita pela aldeia e vou ter a zona mais pitoresca, junto a ponte romana. Por aqui, ha um passeio pedonal renovado, um parque de merendas e mais campos de cultivo. A fronteira com Espanha fica mesmo ali, a menos de 100 metros de distancia.

rio de onor

A igreja matriz fica do outro lado da aldeia, e para chegar a ela, tenho de passar pelo macho e pelos gatos curiosos que ocupam a estrada. Nao vejo carros em funcionamento. Nao ha qualquer barulho de transito. O isolamento tem as suas vantagens e uma delas e a preservacao deste refugio bucolico.

rio de onor

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O que ver em Rio de Onor

– Igreja Matriz de Rio de Onor: Visivel de toda a aldeia, a capela costuma estar encerrada e abre apenas para cerimonias

– Ponte Romana: Este e talvez o elemento mais emblematico da aldeia, atravessando o rio Onor.

– Forno e Forja Comunitarios: Partilhados em Rio de Onor e Rihonor de Castilla, ficam praticamente entre as duas povoacoes.

– Casas de Xisto de dois pisos: Tipicas da regiao, as casas de Rio de Onor sao compostas por dois andares. Tradicionalmente, no piso de cima era a residencia familiar, no piso de baixo ficavam os cereais e animais.

– Carabelho: Estas sao as fechaduras tradicionais da regiao, um pormenor de arquitetura tradicional.

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Onde ficar em Rio de Onor

Apesar de a aldeia ser pequena, existem varios alojamentos locais para uma estadia mais prolongada nesta povoacao idilica. No Booking de Rio de Onor (onde realizo as minhas reservas de viagem), encontrei duas casas rurais dentro da povoacao.

De 15 de maio a 15 de setembro a aldeia tem tambem um parque de campismo em funcionamento, com todos os equipamentos necessarios, incluindo balnearios, wifi, um cafe-restaurante e um mini-mercado. Com a crescente popularidade da aldeia, esta-se a tentar que o parque de campismo esteja aberto durante mais tempo, portanto fora destas datas, liguem a confirmar.

Onde comer em Rio de Onor

Rio de Onor tem apenas um pequeno cafe a entrada da povoacao onde nao servem qualquer tipo de refeicoes. No parque de campismo, ha tambem um cafe-restaurante e um mini-mercado abertos durante o verao. Na regiao do Parque Natural de Montesinho, as minhas recomendacoes gastronomicas estao aqui.

Como chegar a Rio de Onor

A aldeia fica junto a fronteira com Espanha, a 30 minutos de carro de Braganca. Do Porto, sao 2h30 e de Lisboa 5h00. Fica tambem a 2h00 de Leon. Nao existe qualquer tipo de transportes publicos, mas existem excursoes da Rota da Terra Fria a partir de Braganca que visitam esta aldeia no seu programa.

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Chamo-me Diana.Gosto de ler, gosto de escrever e tenho ganho o gosto de viajar. Decidi juntar as historias acumuladas neste espaco e chamei-lhe Contramapa. Porque nas contracapas dos meus livros existe sempre um mapa, um sitio onde ir, um local a descobrir. Aqui podem conhecer as minhas historias e viagens em livro aberto.

13replies
  1. Roadrunner
    Roadrunnersays:

    E para aqui que eu me vou dirigir em Novembro. Conheco o Parque Natural de Montesinho e outras aldeias como Montesinho, mas esta aqui ainda nao. Sendo assim, com este artigo ja fiquei mais elucidado sobre o que vou encontrar. A minha decisao de la ir nada teve a ver com a recente eleicao das maravilhas, mas com este aumento de popularidade e provavel que comece a aumentar a afluencia e a dificuldade em encontrar vagas no pouco alojamento existente.

    Saudacoes!

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    • contramapa
      contramapasays:

      Ola ���
      Sim, acho que vai haver mais afluencia, mas acho que isso e uma coisa boa! Trata-se de uma aldeia bastante isolada com um grande envelhecimento e isto podera trazer alguma vida a aldeia nao deixando que ela morra!
      Ha la varias casas recuperadas e outras em recuperacao para alojamento local. Disseram-me tambem que querem alargar o tempo de abertura do parque de campismo que, neste momento, so esta aberto no verao.
      Beijinhos e boa viagem!

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    • Anda D'I - Servicos de Incoming
      Anda D'I - Servicos de Incomingsays:

      Caso precise de alguma coisa pode contactar-nos, que nos organizamos tudo para si, tal como fizemos para a nossa querida Diana ���
      Ate Breve …

      Responder
  2. Antonio Preto Torrao
    Antonio Preto Torraosays:

    Descricao sucinta, mas rigorosa e excelentemente ilustrada, que foca o essencial de Rio de Onor, da sua identidade e beleza impar e do modos de viver dos seus habitantes, nao esquecendo o drama da calamidade demografica que afeta todo o Interior Portugues e, especialmente, as aldeias do Nordeste Transmontano, autenticos paraisos que, apesar de tudo, ainda persistem. Por quanto tempo? Veremos se o Pais e os seus politicos acordam e fazem alguma coisa para se redimirem do estado a que, deixando-os ao abandono, conduziram todo o Interior do Pais e, ainda mais gravemente, o Nordeste Transmontano, especialmente, as suas aldeias. Parabens, Diana.

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  3. Pedro Gomez Gomez
    Pedro Gomez Gomezsays:

    Obrigado Diana pela divulgacao de Rio de Onor. So matizar que, alem do cafe e do parque de campismo, ha na aldeia um pequeno restaurante (chama-se o Trilho) que sim oferece refeicoes, eu almocei muitas vezes nele.

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  4. Ricardo Esteves
    Ricardo Estevessays:

    Viva Diana, estive a ler o seu artigo sobre a aldeia de Rio de Onor porque vou la este fim de semana, vou de moto e vou tentar pernoitar la aldeia. Gostei muito do que escreveu. Bem haja, Ricardo Esteves.

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