Depois do turbilhao emocional em Hiroshima, fomos conhecer um reduto de paz e natureza: a ilha de Miyajima. Localizada a cerca de uma hora de Hiroshima, e um local de facil acesso e muito popular entre os turistas. E com razao.
Ao nos aproximarmos da ilha de Miyajima de ferry (cujo nome oficial e ilha de Itsukushima), comecamo-nos a aperceber quao especial e este lugar. Nao gosto de utilizar a palavra “magico”, mas foi isso mesmo que senti a medida que eramos embalados pelo barco e a distancia encurtava.
A ilha fica resguardada na Baia de Hiroshima, no Mar Interior de Seto (Setouchi). Recatada e protegida, instintivamente percebemos porque e que esta terra foi reivindicada para os deuses. Este e um local religioso, onde os primeiros cultos datam do seculo VI. Apesar de atualmente existir uma pequena vila na ilha dedicada ao turismo, durante muitos seculos apenas os monges podiam viver aqui. E muito do misticismo ainda perdura: simbolicamente, ninguem pode nascer ou morrer aqui, ja que nao existe hospital nem cemiterio.
Ao atracarmos na ilha, damos de caras com membros da populacao mais acarinhada da ilha: os veados. Doceis e (demasiado) amigaveis, aproximam-se de nos sem pudor em busca de alimento. Ja tinhamos lido os alertas a entrada da ilha para que a nosso a vontade nao fosse reciproco, mas nao conseguimos resistir. Quem acredita que um bambi assim pode ser violento? La se vai a prudencia.
Caminhamos para a a direita do embarcadouro, e passamos pela ruas comerciais de Miyajima. Ha souvenirs, snacks e biscoitos para os veados a venda. Preferimos um gelado (de cha verde, what else?) e continuamos em frente para o ex libris da ilha: o torii gigante construido sobre a agua, que parece flutuar sobre ela.
O torii emblematico faz parte do santuario xintoista Itsukushima (Patrimonio Mundial da UNESCO). Localizado numa reentrancia da ilha, a construcao inicial foi realizada em 1168, a cargo de Taira no Kiyomori, o homem mais poderoso do Japao na altura.
Depois de percorrermos a longa estrutura do templo a beira mar, fomos brindados com uma experiencia unica. O dia que escolhemos para visitar a ilha de Miyajima coincidiu com as festas de celebracao da primavera. Entre outras atividades, havia um espectaculo de teatro noh dentro do templo, de acesso gratuito aos visitantes.
O Noh e o teatro tradicional japones, criado no seculo XIV e associado a religiao e as elites. Estruturado em torno de uma musica e de uma danca, os actores utilizam uma mascara e os passos sao executados de uma forma lenta e simbolica, em consonancia com a musica para dar dramatismo a peca. Em Toquio, Osaka e Nagoya existem salas de teatro especializadas no Noh, mas ha tambem alguns templos que ainda conduzem este tipo de espectaculo, a titulo ocasional. Nos tivemos muita sorte, e apanhamos um desses espectaculos.
A nossa proxima paragem foi o templo budista Daisho-in, fundado pelo monge Kukai, mais conhecido por K�b�-Daishi. Este e talvez o monge budista mais famoso do Japao e, apos a sua morte, foram criadas duas rotas de peregrinacao em seu nome, onde o Daisho-in assume um papel importante. E neste templo que que duas vezes por ano e celebrada a Hiwatarishiki, onde os devotos caminham sobre carvao em brasa, como forma de atingirem a iluminacao.
Depois de passarmos o Portao Niomon, encontramos uma longa escadaria para chegar ao complexo do templo. Aqui encontram-se 600 cilindros com escrituras budistas e consta que ao tocar-lhes, estamos a atrair a boa sorte. Quem resiste a uma boa ventura gratuita? E nem precisamos de queimar os pes…
Chegamos la acima e sentimo-nos gigantes a passear na penumbra pelo jardim onde estao as 500 estatuas dos discipulos de Shaka Nyorai, que ajudaram na construcao do templo. E incrivel notar cada uma das expressoes faciais das imagens de pedra e distinta.
Continuamos a explorar os edificios que compoem o templo, como os saloes de Kannon-do, Maniden e Reikado. Neste ultimo local de oracao existe uma chama que se diz que esta acesa desde a fundacao do templo, no seculo IX. Foi daqui que foi retirada a chama da paz do Memorial da Paz de Hiroshima.
E, depois desta incursao mistica, o grande desafio do dia: chegar ao cume da ilha, o Monte Misen, a 500 metros do nivel do mar. Teria sido facil se tivessemos decidido subir de teleferico. Pagavamos 1.000 yen (7,60��) e em 20 minutos estavamos la. Mas quem e que quer o facil?
Escolhemos um dos tres trilhos de caminhada e pusemo-nos ao caminho. Depois de 2 horas, demasiados degraus e muitos suspiros de arrependimento, la conseguimos.
Dada a hora avancada, descemos de teleferico e pudemos apreciar com calma a vista enquanto recuperavamos o folgo. Desta vez, nao tivemos sorte, mas quem a tem consegue vislumbrar veados e macacos selvagens ao longe. Valeu pela panoramica e pela conquista de um dos locais mais sagrados do Japao.
Quando regressamos, ao pôr-do-sol, ainda conseguimos tirar este postal do torii de Miyajima. Parece que os deuses se alinharam para tornar este dia perfeito.
Como chegar a ilha de Miyajima?
A ilha de Miyajima fica a cerca de uma hora de transportes de Hiroshima. A forma mais comoda (e mais cara) e atraves do ferry que parte do centro de Hiroshima, junto ao Memorial da Paz. Custa 2.000 yen (15��) e a viagem demora 55 minutos. Do porto de Hiroshima, partem tambem ferries, que custam 1850 yen (14��) e demoram 25 minutos.
Contudo, a maioria dos visitantes prefere outra via. E mais barato e, se tiverem o Japan Rail Pass, e gratuito. E apanhar o comboio ate Miyajimaguchi (25 minutos, com um custo de 3�� ou gratuito com o Japan Rail Pass) e apanhar ai o ferry para a ilha (10 minutos, com um custo de 1,40�� ou gratuito com o Japan Rail Pass).
Alojamento na ilha de Miyajima
Existem varios alojamentos disponiveis na ilha de Miyajima noBooking.com, para quem queira aproveitar o recato da ilha e ver o nascer do sol junto ao santuario.
Contudo, a maioria dos visitantes da ilha de Miyajima fica a pernoitar em Hiroshima, ja que e bastante perto. Ha mais opcoes para jantar e a noite e mais animada. Consultem, portanto, tambem os alojamentos em Hiroshima.
Ainda que haja quem venha e regresse no mesmo dia de Quioto ou Osaka, na minha opiniao, e recomendavel uma estadia num destes locais. A ilha de Miyajima tem com que vos entreter um dia inteiro e ha tambem muito para descobrir em Hiroshima.
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Diana, gostando muito dessa tua viagem! Hiroshima foi emocionante tambem para nos, e esse post da ilha de Miyajima transmitiu para nos essa mesma paz que voce deve ter sentido por la. Sou uma grande admiradora do Budismo, entao simpatizei muito com o clima de Miyajima. Ah, e que sorte voce deu! Eu ficarei super feliz se, ao conhecer essa regiao, tambem encontrar por acaso um festival tipico assim tao lindo!
Foi uma grande sorte, mesmo, ver a peca de teatro! Uma experiencia mesmo unica!
Ai que lindo o veado, hehehe. Amei! Quase compramos passagens ontem para o Japao, mas nao deu. Agora, leio com mais carinho os posts com destinos de la. Adorei esta ilha e com certeza vou la, em breve. Guardarei as dicas.
Tem de ir em breve!
Lindo, nao sabia que esse tori ficava nessa ilha, alias sei muito pouco desse fabuloso pais. A Carla minha companheira e que lhe tem um certo fascinio e cada vez mais compreendo porque ! Nem achei nada caro o ferry para la. Boas viagens!
Tem mesmo de ir, entao! E uma viagem de uma vida!
Acho que \”magico\” se aplica bem aqui. Parece ser uma lugar incrivel! E que divertido passear por um lugar assim, repleto de bambis ���
Ta ai uma viagem que eu ficaria muito feliz de realizar. Tanto a Ilha de Miyajima, quanto Hiroshima devem ser muito interessantes. Com tantas historias, e com tradicoes e culturas tao diferentes do que estamos acostumados deve ser mesmo uma experiencia unica.
Ola Diana
Muito bom e interessante este teu texto. Pouco conheco do Japao e a ler sobre a ilha de Miyajima foi uma surpresa para mim (apesar de ter visto fotos deste Torii).
Nossa… que lugar incrivel e que fotos maravilhosas! Achei as fotos lindas demais e o relato muito interessante… Parabens pelo post! Bjs
Belo post e lindas fotos! Queriamos muito it ao Japao durante essa nossa viagem pela Asia, mas a questao do visto e bem chata, ne?! Que pena, fica para a proxima, valeu pela dica!
Que lugar incrivel! E as fotos estao belissimas! Deu muita vontade de conhecer esse lugar \”magico\” – realmente nao tem outra palavra pra descrever!