O vinho deve beber-se com moderacao, mas deve viver-se com intensidade. E esta a premissa do Dia Grande, o evento anual que abre as portas da Herdade do Esporao ao publico em geral. Um dia que sao dois, feitos para honrar as melhores tradicoes portuguesas, com a paisagem alentejana como fundo.

24 horas para viver o Alentejo

Desde a primeira edicao, em 2015, que a vontade de fazer parte deste Dia Grande era muita. Sou uma apreciadora confessa de vinhos, mas ainda tenho muito para aprender; faze-lo na casa-mae de alguns dos vinhos mais emblematicos do pais, no meio de um cenario natural incrivel, parecia-me o plano perfeito para um fim de semana memoravel. A terceira foi de vez.

Estavam prometidos dois dias cheios de actividades: provas de vinhos, um mercado de produtos e arte locais, workshops, exposicoes, concertos, passeios de bicicleta e sestas, em varios locais da Herdade. Como bom garfo que sou, estava tambem ansiosa pelas refeicoes saidas da cozinha do Restaurante Esporao, recentemente premiado com um Garfo de Ouro pelo guia Boa Cama, Boa Mesa (do jornal Expresso).

dia grande

Onovo tradicional

As duas provas de vinhos em que participei revelaram uma das maiores tendencias actuais no sector: a vontade de interferir cada vez menos na evolucao natural do vinho.

Na primeira, o passado apontou o futuro: a ancestral tecnica alentejana da talha (grande recipiente de barro onde o vinho fermenta) esta a ser recuperada no Esporao - e tambem por outros produtores da regiao. Muito do conhecimento vem das familias que ainda praticam, de forma caseira, esta tecnica.

Na segunda ronda de provas, a protagonista foi a Quinta dos Murcas e a incrivel diversidade de vinhos que la se produzem. Tanta que, no limite, poder-se-iam produzir 50 vinhos diferentes nos 50 hectares de vinha que o Esporao explora naquela regiao do Douro, o que tambem so e possivel gracas a uma muito menor intervencao humana nas caracteristicas naturais do terroir, para que cada vinho seja uma expressao o mais aproximada possivel da fruta que lhe da origem. Naturalmente que o volume de producao aqui e bastante mais controlado e alguns dos vinhos provados nao se encontram no circuito comercial.

E tambem dos Murcas que vem o mais iconico vinho do Esporao: VV47, produto da vinha vertical mais antiga do Douro, plantada em 1947. Foi sem duvida o meu favorito.

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No Alentejo, se alentejano

Outra das apostas fortes deste Dia Grande e a gastronomia - ou nao estivessemos nos no Alentejo, onde bem comer e condicao obrigatoria. Mesmo com as expectativas em alta, a prova (sim, e um trocadilho intencional) foi mais do que superada; nao so estava tudo incrivelmente bem preparado, como todo o ambiente foi especial.

Assim foi o almoco, um piquenique na Herdade com direito a gaspacho, uma deliciosa salada com ingredientes dos quais nunca ouvi falar (kulmut, anyone?), sandes de cachaco de porco, bolinho, fruta… e chaparro. Ou, pelo menos, foi o que se seguiu ate ao lanche - quem sou eu para quebrar a ancestral e muy nobre tradicao da sesta alentejana?

E, tal como a tarde (num lanche assegurado pelo chef convidado Manuel Maldonado), o jantar homenageou o melhor do que se faz alem do Tejo: em mesas corridas sob fios de luz e com um incrivel pôr-do-sol ao fundo, nada faltou a mesa, dos vinhos ao azeite, passando pelos queijos e enchidos, ate uma moderna versao de cozido a portuguesa e um rebucado de ovo.

Foi dificil conter a emocao num cenario ja de si tao bonito e que ficou ainda mais arrebatador ao som do Cante Alentejano do Grupo Coral de Reguengos. Sem duvida, o momento que mais me marcou, ate porque pude partilha-lo com novos amigos que, apesar de nao conhecerem a lingua, viveram o momento com a mesma intensidade; um grupo de amigos de varias nacionalidades que ali se juntou a proposito do aniversario de uma das criancas e que soube do evento porque um dos casais esteve, no Natal do ano passado, na Herdade.

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Que bem que se esta no campo

Neste Dia Grande, nao e apenas o palato que se estimula: o jardim da Herdade foi palco de varios concertos que embalaram toda a gente pela manha e pelo fim de tarde a dentro; desenferrujei as pernas e andei de bicicleta entre as vinhas (bastava pegar numa delas num dos 3 pontos em que estavam gratuitamente disponiveis); visitei a exposicao fotografica patente na Vinha do Enoturismo; experimentei alguns produtos de artesaos locais no mercado de produtores; repensei a minha vida e quis mudar-me de armas e bagagens para o Alentejo.

Havia ainda muito mais actividades em que participar (o workshop ��Como ter uma horta em casa?�� e a visita arqueologica a Torre do Esporao sao alguns exemplos). Ha um numero limite de pessoas para cada uma delas e, quando comprei a entrada, muitas estavam ja preenchidas.

Os miudos sao tambem mais do que bem vindos: tem uma area e monitores exclusivamente dedicados a eles durante todo o fim de semana. Cinema, pintura e outras artes manuais sao so algumas das coisas com que se podem divertir. Este e, por isso, um evento em que se veem muitas familias.

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Dia Grande, voltar ou nao voltar: esta resolvida a questao

Definitivamente vou querer voltar em 2018, porque certamente havera sempre algo de novo para descobrir. E talvez desta vez usufrua do alojamento na Herdade (um acampamento um pouco mais confortavel do que o convencional, com colchoes e almofadas e uma zona de duche e WC reservadas).

O preco desta edicao, que achei justissimo, foi 85��. Inclui todas as refeicoes (almoco, lanche, jantar e brunch), actividades - salvo provas de vinho especiais -, acesso ao mercado e bicicletas. O alojamento e pago a parte. Tendas disponiveis com lotacao ate 3 ou ate 8 pessoas.

Ate ja, Esporao!

Este artigo pertence a serie Palavra Puxa Palavra, as cronicas do Contramapa escritas por viajantes convidados.

 

Debora Cambe

Setubalense de gema, lisboeta por opcao. No dia a dia dedica-se ao mundo digital e as idiossincrasias das redes sociais, mas diz que e na escrita que esta a verdadeira paixao. Gosta de um bom vinho e de uma boa refeicao. Iniciou-se nestes meandros atraves do choco frito e hoje e perita em todo o tipo de petiscos. Na ingestao, nao na confeccao, que fique claro.

10replies
  1. Mayte Scaravelli
    Mayte Scaravellisays:

    Que dia mais agradavel!

    Consigo sentir o vento bater no rosto deitada nesse delicioso jardim, com um som de fundo e o sol caindo! A comida que me pareceu bonissima me abriu o apetite e eu como uma adoradora de vinho, que ainda tenho muito o que aprender tambem, iria me deliciar com toda essa experiencia!

    Posso te acompanhar em 2018 tambem? =D Adorei a dica!

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  2. Sabrina Gomes
    Sabrina Gomessays:

    Vinhos portugueses sao sem duvida uma das atracoes imperdiveis quando se visita Portugal. Os vinhos diferem muito um dos outros. Do Porto ao Algarve. Sou suspeita, porque adoro o vinho do porto, mas o Alentejano tem um charme so dele. Quero muito ir conhecer o Esporao. Como voces foram? Quanto tempo de Lisboa???

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    • contramapa
      contramapasays:

      Portugal tem muito bom vinho e ha muitas adegas a 1h30 de Lisboa. Para o Esporao o ideal e ir de carro, foi assim que foi feito! Caso nao possa alugar carro, tera de apanhar autocarro ate Reguengos de Monsaraz (2h30) e ver depois se adega tem servico de transporte ate la (mais 10 minutos de carro). O ideal e mesmo ir de carro porque da num dia para conhecer o que ha a volta: Evora e Monsaraz sao muito bonitos! ���

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  3. klecia
    kleciasays:

    EU adoooooro vinhos e todo tipo de experiencia relacionada. Eu tambem gosto muito de visitar regioes produtoras, e passar pela experiencia de producao e prova e um dos meus objetivos de vida sempre que faco isso. O programa desse dia me pareceu super convidativo e harmonioso… Eu tambem ia querer voltar, certeza!

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