Canarias, um arquipelago de origem vulcanica e uma regiao autonoma de Espanha. Situada no oceano Atlantico, a sul da Madeira e suficientemente perto de Marrocos para sentir o calor africano. Num fim-de-semana prolongado, propus-me a visitar Tenerife, a maior das ilhas das Canarias.

Parte I – Introducao

Praias, calor e festa compoem a trilogia da escapadinha madrilenha nas ilhas das Canarias. Contudo, uma delas, Tenerife, e conhecida por albergar o terceiro maior vulcao do mundo (7,500m medidos desde a sua base no fundo do mar) – o Teide – que e simultaneamente o ponto mais alto de todo o territorio espanhol e tambem em todo o oceano Atlantico, erguendo-se 3,718 metros acima do nivel do mar. Portanto, vamos calcar as botas e ver o sol nascer desde la de cima! Bora?

visitar tenerife

E nao, o teleferico nao conta. A nao ser que tenhas uma perna de pau. Ai tens desculpa.

As partidas para Tenerife Sul sao baratas e frequentes desde Madrid, pelo que aproveitei uma viagem de trabalho, e levei uma mochila a mais. As boas relacoes que tenho com o pessoal do hotel deram jeito, e consegui que me guardassem a mala com a roupa de trabalho durante toda a minha estadia em Tenerife. Foi um exercicio de logistica e negociacao, que me acabou por poupar uns bons cobres e me livrou de ter de andar com o fato e a gravata atras.

Aterrei em TFS com uma hora de atraso, quase ja perto da 01h00, e o meu contacto Airbnb teve a amabilidade de me ir buscar ao aeroporto. Um jovem casal fantastico recebeu-me em sua casa, e mesmo tendo os dois que acordar cedo no dia seguinte, ficamos ainda na conversa, fruto tambem da sua boa vontade em contar-me tudo sobre a ilha. Nao pude conhecer o rebento, que ja dormia profundamente. No dia seguinte quando acordei ja toda a familia tinha saido e seguido com o seu quotidiano. Eu estava no inicio da minha viagem, e teria 5 noites na ilha, sendo que a ultima seria passada no refugio do Teide, a mais de 3.500m. Nesta altura, um misto de excitacao e receio legislava os meus pensamentos. Afinal de contas, estava a pe e sem alojamento reservado.

Parte II – El Medano e Poris de Abona

Estava em El Medano, uma vila costeira perto do aeroporto sul. A oeste tinha a povoacao de Los Cristianos e a Playa de las Americas, zona muito procurada pelos turistas! O meu objetivo para este dia seria conhecer El Medano – nas palavras da Monica: ��el mejor pueblo de todo Tenerife, ya lo veras tu.�� – e a meio da tarde apanhar o ��guagua�� (canario para autocarro) ate Poris de Abona e tentar encontrar algum sitio por la para pernoitar.

Em El Medano subi a Montaña Roja, que separa esta localidade da playa de la Tejita e dei uma volta pelo praia e pelo centro. A areia e fina e dourada, a agua morna e o mar tranquilo. Os habitantes, esses, tambem sao bastante tranquilos e boa onda. Fato de banho opcional. Alugar uma bicicleta ou material de SUP e afins era facil, e nao encontrei filas para nada.

visitar tenerife

A temperatura nao ameacava pelos numeros, mas in loco a coisa e diferente. Era meio dia e ja sentia o pescoco muy caliente. Acontece que a cerveja e boa e serve-se bem fresca. Una mas, porfa! O camarao da costa tambem abunda e e maravilhoso. Uma vez que iria voltar a esta fantastica vila, decidi aproveitar para apanhar o guagua e comecar a andar em direcao a nordeste.

visitar tenerife

Ao chegar a Poris de Abona reparei que nao e um destino turistico, mas sim residencial. Muitas vivendas terreas e terracos, ao estilo mediterraneo. Toda a aldeia esta num declive, e a vista e fenomenal. A praia e praticamente inexistente, ou pelo menos na forma tradicional, ja que nao tem areia. O fundo do mar e calhau, e grande parte da frente maritima esta empedrada, e equipada com escadas.

O hostelworld indicava que existiria um hostel, apenas, e quando cheguei, estava cheio. Cheio de simpatia, claro. Apenas havia um quarto duplo disponivel, um autentico luxo, e bem negociadinho ate ficou barato. Vesti os calcoes de banho, deixei a mochila no quarto e fui mandar umas cacholadas. O resto da tarde era para o relax. Ah, boa vida. O sol nao espreitava, mas com agua morna e sem vento, quaisquer 26º sabem a 35º.

visitar tenerife

A vida noturna e bastante animada, para o que se pode esperar de uma aldeia com um restaurante, dois bares e uma rulote de cervejas a beira mar com musica pujante a dar no radio AM/FM. Podia ter ficado ali o resto da noite a admirar o reflexo da lua no mar que nao teria sido em vao.

visitar tenerife

No dia seguinte aproveitei o pequeno almoco incluido do hostel, e foi entao que conheci os restantes hospedes. A comida era aquela que qualquer jovem boa onda teria arranjado, ou seja, pao de forma e cereais de pequeno almoco. A conversa ao menos foi mais animadora.

Pela manha fui explorar um pouco mais a zona, ate chegar a um resort especial dedicado a pessoas infectadas pela lepra. Bem afastado da vila, e abandonado antes de totalmente concluido, as ruinas do Hospital de Abades sao impressionantes e fazem lembrar um cenario usado para testes de armas nucleares, em segunda mao. No caminho para la encontrei praias recônditas, autocaravanas selvagens e um ambiente de descontracao natural que me comecava a entranhar como mote desta viagem.

visitar tenerife

Parte III – San Cristobal de la Laguna e Santa Cruz de Tenerife

O almoco foi fenomenal. Depois de varios guaguas eis que chego a San Cristobal de la Laguna, uma vila historica, com o seu q.b. de turistas. Ruas pedonais estreitas, gente jovem, cafes e restaurantes ecleticos. Tudo para todos, uma vila a rebentar de vida, onde a tradicao do passado se mistura com a vibe contemporanea. Afastei-me o que pude do centro a procura de um restaurante que estivesse ao barrote e onde o idioma predominante fosse o castelhano.

E encontrei, mas nao era espanhol, era peruano. Ja tinha comido ceviche, por diversas vezes, mas atencao: este gajo era mesmo peruano! Trouxe-me uma travessa inteira do melhor ceviche que alguma vez tinha provado e com todos os acompanhamentos a que tinha direito. E este foi apenas o primeiro prato. Claro, demorei umas boas horas e sai de la redondo. Mas alem de uma barriga cheia, trouxe a alma recheada com as historias do dono e do cozinheiro, que alem de eximios profissionais da culinaria, sao excelentes anfitrioes.

Estava agora em Santa Cruz de Tenerife, a noite a comecar a espreitar e ainda nao tinha arranjado poiso. Da estacao ate ao hostel aceitavel mais proximo ainda foram uns quilometros, e uma vez la e pago o equivalente a um menu big mac, fui encaminhado ao meu cubiculo privado. Um duche no wc partilhado e uma power nap e estaria pronto para as celebracoes do Plenilunio. Uma especie de espetaculo de variedades nas ruas pedestres da cidade, muita animacao e toda a gente na rua.

visitar tenerife

Acontece que nao meti o despertador. La vou eu entao, novamente esfomeado, as 23h, a procura dos restos da festa, ja que supostamente seria durante o dia e pela noite dentro. O que nao sabia era que o conceito de noite dentro acabava as 21h30. Mas gracas a alma espanhola que janta tarde, encontrei uma hamburgueria que ainda estava a servir – e nao resisti ao desafio do meio quilo de carne entre duas fatias de pao. Afinal de contas, viajar da fome!

No final da noite descobri que o hostel tinha um terraco no ultimo andar do predio, com sofas e uma pilha de livros, ao lado de uma chaleira. Sentei-me confortavelmente, agarrei no primeiro livro que estava em cima, e ali fiquei umas boas horas a ler e a beber cha, enquanto a brisa soprava suave com sabor a Africa.

Manha do dia seguinte, e vespera da grande aventura. Tinha reservado um carro no aeroporto para os dois dias em que iria estar na montanha, para a ida e para a volta, que seria direta para o aeroporto. Os guagua apenas tinham uma carreira diaria com passagem pelo Teide, com horarios nada favoraveis. Contar com boleia no regresso poderia ter sido uma estrategia, mas nao quis abusar da sorte.

De volta a estacao, em Santa Cruz, entre locais e ultratrail runners fedorentos, localizei a paragem com destino a Los Cristianos. Sempre fiel, o guagua la foi pela costa abaixo, medindo o perimetro da ilha. Para este dia tinha planeado ir ao encontro das piscinas naturais de Los Abrigos, que fica suficientemente perto de El Medano para que pudesse palmilhar a distancia.

Parte IV – Los Abrigos e El Medano, Revisited

Desci na paragem da autopista, e ate ao centro da vila foram uns 3 quilometros ate a Punta del Jurado. A vila toda ela virada para o mar, fazia lembrar uma mistura de Sesimbra com Colares, mas com o seu toque tropical. Restaurantes com ideologias maritimas e infraestruturas propicias a banhos de mar sem areia, e tudo sem turistas. Um local para os locais.

visitar tenerife

Continuando para este, estava agora a deixar a vila para tras e ainda sem sinal das piscinas naturais, ate que uma escadaria em madeira rompe pelas rochas abaixo em direcao ao mar. Desco, e encontro uma praia de cascalho que percorro ate terminar, conquistada pela arriba de basalto irregular. Olhei, e aceitei o desafio. Continuei para este, agora transpondo autenticas paredes negras, para encontrar enseadas ocultas e mais paredes.

A certo ponto estava eu, de costas para uma arriba de rocha, em chao de rocha negra, e de frente para o mar azul. Maravilhoso. E continuei, ate que eis que as encontro. Autenticas piscinas, abertas no fundo, deixando a luz e o mar entrarem por baixo.

visitar tenerife

Mudei de roupa detras de um calhau e ai fui eu, reclamar o mergulho que seria meu, nao por direito, mas sim por merito.

visitar tenerife

Agora estaria a meio caminho, pensei. Voltei a calcar as botas e continuei a explorar junto a costa, por arribas, falesias e plantacoes de bananas. Comecava agora a encontrar banhistas e outros veraneantes pelas praias, umas com areia preta, outras completamente em rocha, mas todas elas respiravam um forte sentido de liberdade individual e respeito mutuo.

Algures entre duas plantacoes de bananas, numa zona plana que escondia uma pequena praia rochosa, caminhava com o sol bem alto, quando passei por uma autocaravana estacionada. Ca fora um individuo com os seus 60 anos, de calcoes de pano compridos com motivos florais, em tronco nu, grisalho, de cabelos e barba comprida, bebia uma cerveja de lata, descontraido. Ao ver-me passar, alcancou uma fresquinha da geleira e esticou o braco em plena oferenda. Este foi um daqueles momentos em que pensei que poderia correr muito bem, ou muito mal.

Ja do outro lado do bananal, um pequeno hotel tinha um avancado na praia, El Chiringuito Pirata, que estava lotado, e com os empregados a pingar em bica. Os turistas enchiam a praia, quando ja ali ao lado havia quilometros sem ninguem. Aproveitei para encher os meus cantis e atravessei o areal em direcao a Montaña Roja, que teria de transpor para ganhar direito ao almoco. Esta pequena montanha escondia uma serie de pequenas enseadas, todas elas diferentes e ingenuamente virgens. A barriga bateu nas costas, e pus-me a caminho, para saciar a fome e continuar a exploracao costeira.

visitar tenerife

Chegado a Playa de la Montaña Pelada, pousei a mochila, tirei as botas e fiz-me ao mar. Pouco mais que seis familias tranquilas e silenciosas partilhavam a praia naturista comigo. Um areal escuro, limpo e agua morna transparente e sem ondulacao. Pure bliss!

De volta a El Medano, encontrei um hostel barato com cacifos e guardei a mochila. Agora de havaianas e fato de banho, estava em modo turista, pelas ruas da vila. Tirei fotos, comi um gelado, sentei-me na esplanada a beber imperiais e a comer tapas – enfim, a vida dificil. E o sol escondeu-se, perfeitamente sincronizado com o vazar da mare.

Parte V – El Teide

Ele continuava a fixar-me como sempre fez desde o primeiro momento em que aterrei na sua ilha. Mas agora nao escondia o olhar, eu iria ao seu encontro e ele sabia-o. A questao que estava no ar e que nao queria enderecar e se ele me deixaria.

Acordei no hostel, estava com apenas mais outro viajante no quarto, da Bulgaria. Animador e musico, apresentou-me ao hang, instrumento suico de percussao que se assemelha a uma cataplana. Rapidamente toda a gente no hostel estava no nosso quarto a apreciar o espetaculo gratuito. Boa forma de comecar o dia.

Estava agora no guagua, a caminho do aeroporto, onde tinha o carro reservado. Note to self: nao voltar a reservar carros pela Ryanair. Burocracias a parte, o barato sai caro. Mas ja estava a caminho do parque nacional del Teide, seriam 50 quilometros ate ao inicio do sendero Nº7. Depois, seriam uns maravilhosos 10 quilometros, com uma altimetria positiva de 1.370m, culminando no pico del Teide.

A entrada no parque nacional e fenomenal, porque o vulcao tem duas crateras. A primeira, com um perimetro gigante, esta a volta dos 2.600m, e uma vez que a transpomos, a estrada descende uns 200m, pelo que nos vemos cercados de montanha. E a paisagem la dentro? Uma mistura de lunar com marciana. Um autentico deserto com areia meio vermelha, alisada pelo vento, com piroclastos do tamanho de parquimetros, pretos e cheios de buracos, tudo muito redondo. No meio deste deserto ergue-se a o pico del Teide, imponente e ainda com neve em algumas faces, com a sua propria cratera, mas essa bem la em cima.

visitar tenerife

Tratei de estacionar, mesmo na entrada do trilho. Mochila as costas, botas apertadas e bora la. Ao inicio, largos estradoes levam-me a passear entre as colinas, com uma elevacao constante que nao arreda pe.
Por quilometros a paisagem nao muda ate que comeco a ver alguns bancos de neve que ainda nao tinham derretido, e o estradao comeca a serpentear com cotovelo atras de cotovelo. Ao longe avisto o pico, e parece entao que ate agora ainda nao tinha subido nada. O estradao continua para a esquerda, e a minha frente esta entao o inicio do verdadeiro trilho. Este sim, sobe, e sobe mesmo. E um trilho estreito que escala a montanha, quase a direito, em que a elevacao sobe depressa.

visitar tenerife

Ao estilo de John Oldman, I always travel light.

Com a diminuicao da pressao atmosferica a medida que se ascende, torna-se mais dificil respirar. A cada passo fico mais perto, mais alto. Encontrei agora sim alguns viajantes no trilho, que paravam para recuperar o fôlego. Estava decidido a descansar apenas no refugio, onde pernoitaria. E assim foi, cheguei ao refugio. Cansado, mas contente.

visitar tenerife

No total a lotacao e de pouco mais de 100 pessoas, com dois quartos e duas casas de banho, nenhuma delas com banheira ou duche. Apenas para o basico. Portanto cada quarto tem capacidade para 50 pessoas mal cheirosas, a dormir em beliches. Nada como toalhitas de bebe para o basico. Oxala que mais gente tivesse pensado como eu…

visitar tenerife

O ranger abriu a porta, e um a um, atribui-nos um beliche, apresentou-nos as regras e mostrou-nos a cozinha. Tinha tudo, menos comida ou agua. O maior grupo era frances, com um casal amigo espanhol que lhes fazia de guia. Ate entao nao tinha percebido porque e que precisavam de mochilas tao grandes, mas quando os vi meterem um queijo de 5 quilos em cima da mesa, percebi. E continuei a perceber quando vieram as saladas e o resto do jantar feito a preceito. Afinal de contas, eram franceses – estereotipo facil, eu sei, mas estavam mesmo a pedi-las.

visitar tenerife

Eu levei uma lata de conserva de fabada asturiana que aqueci no fogao.

No dia seguinte a alvorada e as 4h30 para dar tempo de subir a restante tranche do percurso, que e a mais complicada e dificil de todo o percurso, a tempo de ver o sol nascer. Estamos entao todos deitados as 22h, e o concurso internacional de ressonar pode comecar! E claro, as insonias tambem. Um quarto fechado, aquecido, com 54 pessoas a respirar, a 3500m de altitude normalmente causa insonias. Nao dormi 5 minutos.

Mas como quando a vida nos da limoes nos fazemos limonada, eu neste caso fiz gin tonico e aproveitei para ser o primeiro a arrancar. Enquanto todos arrumavam as tralhas do pequeno almoco continental que tinham trazido nas mochilas de 70 litros, eu meti o caroco da maca (pequeno almoco low cost) dentro de uma garrafa vazia e enfiei-a na mochila, vesti o impermeavel e fiz-me ao caminho.

visitar tenerife

A lua estava cheia e depressa apaguei a lanterna para fazer a subida apenas com o luar, sozinho no trilho, ao meu ritmo e sem interrupcoes. Apenas ouvia o vento e a promessa de um nascer de dia inesquecivel. Pelo caminho encontrei trocos traicoeiros, desniveis escorregadios e tuneis de gelo. Cada um me dava mais prazer de transpor que o anterior.

O cheiro a enxofre era cada vez mais notorio, e fumo saia de dentro das rochas, que apesar das temperaturas negativas, estavam quentes. Afinal de contas, o vulcao esta ativo. Continuo a subir por entre escarpas e rochas, ja sem grande trilho por onde seguir, apenas indo em direcao ao que esta mais alto do que eu, ate que a certa altura ja nao ha nada mais para subir. Apenas o vento que passa por cima e uma vista de 360º sem qualquer obstaculo no horizonte. Estou eu ca em cima, com a lua e mais ninguem. Encosto-me e espero pelo espetaculo que estaria prestes a comecar.

Entretanto o resto do grupo comeca a chegar, sendo que o primeiro e o vencedor da noite passada. Segue-se o grupo de franceses e alguns grupos mais pequenos. O horizonte comeca entao a mudar de cor e uma linha vermelha alaranjada deixa notar a curvatura da Terra.

visitar tenerife

Se olharmos com atencao, conseguimos ver o planeta a girar sobre si, a medida que a linha comeca a expandir-se pelo ceu em todas as direcoes. Atras de nos, a lua e a crescente sombra do Teide projetada sobre a ilha lembra-nos da imponencia deste gigante.

visitar tenerife

O sol finalmente presenteia-nos com a sua presenca, nunca timido. Partilham-se cumprimentos, oferecem-me chocolate (retiro o que disse sobre as malas demasiado grandes dos franceses) e preparo-me para o regresso. Afinal de contas, o caminho e longo e o aviao nao espera por mim. E ainda tinha de arranjar forma de tomar banho algures. Despeco-me e faco-me ao trilho, enquanto que o resto do grupo espera pela hora de abertura do teleferico para descer.

visitar tenerife

No caminho para baixo, agora ja bem de dia, cruzo-me com os ultimos a sair do refugio, com cara de quem quer desistir. Umas palavras de apreco e motivacao, e sigo o trilho, sempre a descer.

visitar tenerife

Aproveito para tirar umas camadas de roupa, e sigo o trilho, tentando formular um plano para tomar um duche gratis algures antes de chegar ao aeroporto. Lembrei-me entao que vi um chuveiro publico numa praia mesmo no centro de El Medano, e em ausencia de melhor, sera esse o meu destino – se la chegar a tempo. Carrego no ritmo, e montanha abaixo la vou eu, a julgar-me um verdadeiro montanhista! Ate que, um barulho atras de mim me chama a atencao. Um ultramaratonista em tronco nu e de sapatilhas vem a correr e aos saltos pela montanha abaixo, e passa-me com um ��¡Hola, buenos dias!��. Da-lhe brita, hombre!

Cheguei ao estacionamento onde tinha deixado o carro no dia anterior. Ja nao tinha nenhuma t-shirt que cheirasse minimamente bem, portanto foi preciso gastar dinheiro numa nova, ja na vila. Encontrei tambem uma casa de banho publica apenas a 20 metros do chuveiro da praia, excelente. Visto o fato de banho, pego no sabonete e vou dar espetaculo para o chuveiro, que ficava exatamente no meio da praia. De volta ao wc, nada como roupa nova depois um banho fresco, e agora a caminho do aeroporto para trocar as quatro rodas por um par de asas.

visitar tenerife

Este artigo pertence a serie Palavra Puxa Palavra, as cronicas do Contramapa escritas por viajantes convidados.

 

Filipe Guerra

Nascido e criado na Margem Sul. E por la vivendo. Nas horas vagas e dias de folga, dedica-se a explorar outras paragens, especialmente a pe e de bicicleta. Quis tirar uma Licenciatura com Mestrado Integrado em BTT. Nao havia. Tirou Engenharia Informatica e dedica-se a que haja menos ataques de nervos nas empresas por causa do SAP.

10replies
  1. rui batista
    rui batistasays:

    Ainda nao conheco Tenerife. Ja tive feedbacks contraditorios. Para ja, vou explorando latitudes mais distantes. Mas gostei das fotos, do texto. E parece-me uma boa opcao para uns dias relaxados sem me afastar muito de Portugal ���

    Responder
  2. Rayane
    Rayanesays:

    Que lugar incrivel, Felipe! Nunca li um post tao completo e explicativo sobre la e fiquei morrendo de vontade de conhecer pessoalmente. Quero chegar a Tenerife igualzinho voce! Muito legal!

    Responder

Leave a Reply

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe uma resposta

O seu endereco de email nao sera publicado.