Antes de comecarem a ler qualquer coisa que eu escreva abaixo, sinto-me obrigada a fazer um disclamer, como quem diz, uma declaracao de isencao de responsabilidade. Brooklyn e uma cena a parte. E eu digo a parte como quem diz toda-uma-outra-cidade.

Para quem nao sabe, Nova Iorque e composta por 5 burgos, e Manhattan, onde passamos 3 dias, e apenas um destes burgos (vejam como Nova Iorque esta organizada). Brooklyn e outro destes burgos, o mais populoso e, ha quem diga, o mais diverso. Portanto, quando digo que fomos ali passar o dia a Brooklyn, vejam mais como ‘fomos ali a outra cidade’ do que ‘fomos ali ao outro bairro’. Afinal de contas, Brooklyn transpira um orgulho unico na sua identidade. Uma frase que ouvi durante a viagem retrata bem este espirito: “Uma pessoa de Manhattan, e um New Yorker, uma pessoa de Brooklyn, e um Brooklyner“.

Posto isto, estivemos em Brooklyn no ultimo dos nossos dias em Nova Iorque. Como sabiamos que teriamos pouco tempo para conhecer toda uma outra cidade, escolhemos fazer um Food Tour. Ja sabem, eu ligo muito aos petiscos, nao e…

1. Williamsburg: hipsters e judeus

Logo depois de atravessarmos a ponte do mesmo nome, entramos no bairro de Williamsburg, em Brooklyn. Cheio de contrastes, reparamos logo que este bairro tinha duas grandes populacoes: judeus e hipsters.

Brooklyn Williamsburg

Por um lado, Williamsburg tem uma grande comunidade de judeus ortodoxos (chassidico), os mais tradicionais. E comum ver na rua homens com a roupa tradicional, chapeus de aba larga e longas barbas. Com cerca de 73.000 judeus ortodoxos em Williamsburg, esta e uma presenca constante e que influencia a gastronomia e o comercio local… ate porque, em media, cada familia desta comunidade tem 8 filhos. Por exemplo, vimos muitas mulheres nas ruas a espera de emprego diario nas paragens de autocarro (o chamado day labour)… isto porque as ninhadas dao trabalho e os homens estao proibidos de entrar nas casas dos ortodoxos quando o marido nao esta em casa.

Contrastando com esta aura mais tradicional, Williamsburg tornou-se tambem um dos mais hips de Brooklyn. Como a partir dos anos 70, esta parte da cidade tinha rendas mais baratas, muitos artistas e musicos mudaram-se para aqui, a zona tornou-se um ponto de encontro para intelectuais que depressa se tornaram hipsters, com as suas roupas extravagantes e posturas ‘quero-la-saber-do-mundo’.

Contudo, nos anos 90, Williamsburg comecou tornar-se gentrificada e os precos das rendas dispararam. Como exemplo disso mesmo, neste bairro ha agora o restaurante de Peter Luger. Segundo consta, nesta steak house nao se aceitam cartoes de debito ou credito e ha quem levante o sobrolho se o menu for pedido…

brooklyn williamsburg

No McCarren Park, ponto de encontro tradicionalmente judeu, ha agora os hipsters, com as suas barbas, camisas de flanela e oculos de massa. Por estas bandas, o aluguer de um apartamento de 1 quarto chega a custar $4.000. Mas nas casas que ainda nao foram gentrificadas e ainda pertencem aos judeus, podemos ver nas varandas as sukkahs – casinhas de madeira que sao construidas para as festividades da comunidade, que celebram as colheitas e o Exodo judeu das terras de Jerusalem. Apesar de as festividades acontecerem no final de outono durante uma semana, as sukkahs ficam nas varandas de Williamsburg durante todo o ano.

Brooklyn Williamsburg

E existem muitos mais vestigios da comunidade judia no bairro. Desde os edificios, autocarros e escolas aos jornais. Tudo em hebreu. Basta olhar a volta com um olhar mais atento.

Mas antes de os judeus virem em grande numero durante a II Guerra Mundial, ja o bairro tinha varias comunidades de imigrantes, como alemaes, irlandeses e polacos. A nossa experiencia gastronomica em Williamsburg foi precisamente no Krolewskie Jadlo, um restaurante de comida tradicional polaca. E tivemos uma refeicao completa! Salada de beterraba e cenoura, pure de batata com enchidos e perogies, os dumplings polacos. Para sobremesa, crepe de maca e canela.

Brooklyn Williamsburg

Brooklyn Williamsburg

Depois deste almoco arrebatador, cambaleamos ate ao proximo bairro. Pelo caminho, ainda passamos pela Factory Studios, um dos muitos armazens velhos de Williamsburg que foi transformado num estudio de filmagens. Por exemplo, a serie da Netflix Daredevil, e filmada por aqui.

E se nao tivessemos ja enchido a barriga, teriamos ido ao Odd Fellows, onde se diz haver o melhor gelado de Brooklyn e arredores, ou ao pitoresco Cafe de la Esquina, um dining com alma sul-americana, cujo dono anda em negociacoes para vender o espaco a uma construtora de condominios.

2. Latinos em Sunset Park

De transportes, chegamos rapidamente ao Sunset Park que fica na outra ponta de Brooklyn. Em tempos esta area era habitada por escandinavos, e era conhecida por ser uma zona industrial com muito cimento. Hoje em dia, o bairro e mais colorido e povoado por cubanos, porto-riquenhos e mexicanos.

E aqui que comeca a Maratona de Nova Iorque cujo trajeto, alias, acontece em grande parte em Brooklyn. Foi tambem aqui e em Bay Bridge (ao lado de Sunset Park) que grande parte do Saturday Night Fever/ A Febre de Sabado a Noite de John Travolta foi filmado.

Como experiencia gastronomica, em Sunset Park fomos ao International (4408, 5th Avenue), um restaurante de comida caribenha fundado por um cubano ha mais de 30 anos. E parece que somos transportados para um pais da America Central. O menu so esta em espanhol, quem nos atende e latino, a musica e latina, e somos recebidos com um “Hola, como estas?”.

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Pegamos na nossa sandes cubana e fomos para o outro lado da 5th Avenue (a de Brooklyn, claro), para o Sunset Park. O parque oferece uma vista panoramica sobre Staten Island e e o segundo ponto mais alto de Brooklyn. O primeiro fica mesmo ao lado, no Cemiterio de Greewood (Battle Hill), um enorme parque que, segundo consta, foi a inspiracao principal na construcao do Central Park.

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3. O bairro historico de Brooklyn Heights

Seguindo para norte, chegamos a Brooklyn Heights, uma das zonas mais antigas de Brooklyn. Para que tenham uma nocao, existem ferries a fazer o trajeto Manhattan – Brooklyn Heights desde o seculo XVII…

E um bairro com casas antigas, de arquitetura baixa (aqui nao ha arranha-ceus, como na Downtown de Brooklyn), com igrejas, rowhouses (casas de tijolo, em fila e todas iguais) e outros edificios historicos, principalmente do seculo XIX. Por aqui, fomos a Montague Street, uma rua cheia de lojas e movimento, uma das mais conhecidas do bairro.

Dia de filmagens em Brooklyn Heights...

Dia de filmagens em Brooklyn Heights…

Se estiverem pela zona, nao deixem de ir a Brooklyn Heights Promenade, um parque a beira rio que tem como principal proposito esconder a autoestrada que passa por baixo…

Por aqui, fomos lanchar ao Dellarocco’s, um restaurante em que se mistura os ingredientes e se coloca as pizzas no formo mesmo a nossa frente. E, para sobremesa, uns cannoli… Nao fomos nada mal tratados.

dellaroccos brroklyn heights

Dellaroccos brooklyn heights

4. Arte e tecnologia no Dumbo

O ultimo dos bairros que visitamos em Brooklyn foi o DUMBO (Down Under the Manhattan Bridge Overpass). Apesar de ser o bairro de menor dimensao em Brooklyn, tornou-se um centro de artes, com varias galerias abertas ao publico, como a St.Ann’s Warehouse e a A.I.R. Gallery.

Alem disso, o bairro e um polo tecnologico, sendo que 25% das empresas tecnologicas nova-iorquinas estao sediadas aqui, empregando mais de 10.000 pessoas. O bairro tem tambem uma incubadora de start-ups, promovida pela NYU.

dumbo ponte brooklyn

Por aqui, ja nao tivemos gula para ir a Julianna’s Pizza, que nos recomendaram localmente, mas fomos a loja de chocolate do Jacques Torres, um dos pasteleiros mais famosos dos Estados Unidos e com varias lojas em Nova Iorque. Chocolates (e gelados) para todos os gostos, incluindo um chocolate de vinho do Porto (Jose Maria da Fonseca). Cereja no topo do bolo!

jacques torres chocolate

jacques torres chocolate

E esta, heim? Que melhor forma de acabar o dia em Brooklyn? Que melhor forma de terminar 4 dias em Nova Iorque? Dias cansativos, mas cheios de cultura, movimento, surpresas e de uma diversidade unica. Ha que voltar. Nova Iorque parece ser uma descoberta constante…

Vejam o Como e que Nova Iorque esta organizada, Roteiro de 1 Mes nos Estados Unidos e Posts de Nova Iorque.

Vejam aqui o mapa da paparoca:


brooklyn mapa bairros

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Chamo-me Diana.Gosto de ler, gosto de escrever e tenho ganho o gosto de viajar. Decidi juntar as historias acumuladas neste espaco e chamei-lhe Contramapa. Porque nas contracapas dos meus livros existe sempre um mapa, um sitio onde ir, um local a descobrir. Aqui podem conhecer as minhas historias e viagens em livro aberto.

0replies
  1. Camila Franca
    Camila Francasays:

    Ain! Que saudade de NY! Eu dei uma passada rapida no Brooklyn, mas depois de ver o seu post me arrependo amargamente de nao ter passado mais tempo por la.
    Incrivel post! Desejei todas as comidinhas.

    Beijos!

    Responder

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